A Comissão de Defesa Sanitária e Vegetal de Mato Grosso, formada pelo Ministério da Agricultura, por pesquisadores, produtores rurais, consultorias e universidades, está cobrando do governo estadual a criação de uma norma proibindo o cultivo de soja seguida de soja (a chamada safrinha), que avançou no Estado nas últimas duas temporadas até alcançar cerca de 300 mil hectares. O grupo também propõe que o vazio sanitário (período sem a oleaginosa no campo) volte a ser como antes, com uma duração de três meses, um pouco menos restritivo que o atual, de 116 dias.
A proibição do plantio de soja nesse período tem o objetivo de proteger áreas da permanência de pragas e doenças (especialmente a ferrugem asiática). A restrição pode afetar a produção no curto prazo, mas tem efeito preventivo a médio e longo prazos para a qualidade sanitária de propriedades produtoras de soja, segundo agrônomos e biólogos que estudam o tema.
Nos últimos dias, um grupo de representantes da comissão propôs à recém-criada secretaria estadual de Desenvolvimento Econômico de Mato Grosso que o vazio volte a funcionar entre 15 de junho e 15 de setembro, como era inicialmente.
Não é de hoje que existem divergências entre os interesses econômicos e os científicos no maior Estado produtor de grãos do país. Uma amostra disso é que Mato Grosso teve alterações em suas regras de vazio duas vezes somente no último trimestre de 2014.
Em outubro do ano passado, uma Instrução Normativa do governo mato-grossense ampliou o período do vazio de 90 para 137 dias, estendendo o seu início para 1º de maio. Já em dezembro, editou mais uma, dessa vez reduzindo esse intervalo para 1º de junho a 30 de setembro.
Wanderley Dias Guerra, fiscal agropecuário federal e coordenador da comissão, revela que o grupo chegou a sugerir que o vazio fosse esticado para cinco meses para diminuir o cultivo de soja safrinha, plantada geralmente em fevereiro.
Entretanto, formou-se um consenso de que 90 dias é suficiente para reduzir a pressão de seleção de defensivos químicos sobre o fungo da ferrugem. “Soja sobre soja quer dizer plantar em cima de um ambiente infestado com a doença, ou seja, o produtor tem que aplicar o dobro de fungicida nessas áreas, que têm perdido eficiência”, diz.
Guerra afirma ainda que uma recente rede de pesquisas lideradas pela Embrapa Soja constatou que dos 115 fungicidas disponíveis no mercado apenas seis têm eficiência acima de 50%. O governo estadual pediu pareceres técnicos dos institutos de pesquisa e entidades para decidir se acatará ou não a solicitação da comissão.