A chamada crise climática global, aliada aos prognósticos de que o aquecimento do planeta se intensificará e provocará impacto “grave, abrangente e irreversível”, como consta do relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas das Nações Unidas (IPCC, na sigla em inglês), invariavelmente coloca a agricultura brasileira no centro das discussões.
Isso é compreensível. O Brasil é hoje, no cenário mundial, um dos principais produtores agrícolas e um dos maiores exportadores de alimentos. Enfim, o mundo depende da produção de grãos e de proteína animal. E a tendência é que tenhamos um papel cada vez mais preponderante no mercado agrícola global.
Mesmo assim, causa estranheza –e até certa indignação– tentativas de setores ligados ao movimento ambientalista –muitos dos quais suspeitos de serem financiados por mercados concorrentes– de atribuir à agricultura brasileira desinteresse em contribuir para a redução dos efeitos da crise climática global no país, como se isso dependesse fundamentalmente da ação dos nossos produtores de alimentos.
Ao contrário do que alardeia a corrente que historicamente se opõe ao avanço agrícola do país, a agricultura brasileira tem dado enorme contribuição nos últimos anos para reduzir os impactos das mudanças climáticas.
As estatísticas comprovam que a expansão da agricultura brasileira se deu em bases sustentáveis. Nos últimos 25 anos, por exemplo, a área plantada se expandiu 63% enquanto a produção de alimentos aumentou 230%. Como a agricultura brasileira alcançou esse invejável desempenho? Com aumento de produtividade, claro, somando à fertilidade da terra, à abundância de água e à intensidade do sol pesados investimentos em tecnologia, pesquisa e inovação, feitos tanto pelo setor público como privado.
Não é por acaso, portanto, que a Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) seja considerada atualmente a mais respeitável instituição em pesquisa em agricultura tropical do planeta.
Com iniciativas gestadas em nossas instituições de pesquisas e com desprendimento de nossos produtores, estamos na vanguarda da execução de práticas agrícolas inovadoras, voltadas à redução de efeitos prejudiciais ao ambiente e à busca de sustentabilidade –na qual estão envolvidos aspectos econômicos, sociais e o respeito ao equilíbrio e a restrição dos recursos naturais.
Entre essas ações, está o Plano ABC – Plano Setorial de Mitigação e de Adaptação às Mudanças Climáticas para a Consolidação de uma Economia de Baixa Emissão de Carbono na Agricultura, desenvolvido pelo Ministério da Agricultura em parceria com o setor produtivo.
Com vigência entre 2010 e 2020, o Plano ABC contempla sete programas: recuperação de pastagens degradadas, integração lavoura-pecuária-floresta e sistemas agroflorestais, sistema plantio direto; fixação biológica de nitrogênio, florestas plantadas, tratamento de dejetos animais; e adaptação às mudanças climáticas.
Dos sete programas, seis envolvem diretamente tecnologias de mitigação das mudanças climáticas e um prevê ações de adaptações às alterações do clima. O setor brasileiro está, portanto, na dianteira da disseminação de tecnologias de produção sustentáveis na agropecuária para reduzir a emissão de carbono na atmosfera.
Por isso, no que depender do Brasil e de sua agricultura o mundo conseguirá atenuar os efeitos da chamada crise climática global, além de prepará-lo para saber lidar com tal situação. Esta é a minha convicção. Espero que o exemplo brasileiro seja objeto de análise durante a Conferência do Clima em Paris, em 2015.
MOREIRA MENDES, 68, deputado federal, é líder do PSD na Câmara dos Deputados e ex-presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária (2010-2012)
*Artigo publicado no jornal Folha de São Paulo (edição: 29/05/2014)