Burocracia impede registro de novos agroquímicos
Produtores de algodão já amargaram este ano prejuízo da ordem de R$ 10,7 bilhões por causa da praga da lagarta Helicoverpa, com ação destrutiva que se intensificou no início deste ano nas lavouras dos principais polos da cultura no País, provocando também desemprego.
O levantamento das perdas foi revelado ontem durante entrevista coletiva à imprensa realizada no Ministério da Agricultura sobre o 9º Congresso Brasileiro do Algodão (CBA), que acontece entre hoje, 3, e sexta-feira, 6, no Hotel Alvorada, em Brasília.
“Não podemos importar defensivos adequados por falta de estrutura dos órgãos do governo federal responsáveis pelos registros dos produtos”, reclamou Milton Garbugio, presidente do 9º CBA e da Associação Mato-grossense dos Produtores do Algodão (AMPA), entidade promotora do Congresso.
“A Anvisa [Agência Nacional de Vigilância Sanitária] proibiu a utilização dos insumos contra a praga que já vêm sendo usados há muitos anos por nossos concorrente, a exemplo dos Estados Unidos, da Austrália e da Europa”, destacou.
Garbugio explicou que a lagarta já está presente em todas as regiões produtoras do País, como Bahia, Goiás, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul e Mato Grosso. O quadro é mais grave no oeste baiano, onde as perdas são estimadas em R$ 1,5 bilhão.
Decreto presidencial Na entrevista coletiva, o presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa), Gilson Pinesso, afirmou que a solução ao impasse será a edição, pela presidente Dilma Rousseff, de um decreto presidencial. Essa medida poderá autorizar a importação dos defensivos testados no exterior com bons resultados no combate à Helicoverpa.
De acordo com o dirigente da entidade, o Ministério da Agricultura ficou sensível ao problema e editou uma ordem para permitir a importação dos defensivos comprovadamente eficientes para o controle da praga. No entanto, a iniciativa não foi endossada pela Anvisa.
“Os insumos autorizados para uso não possuem eficiência para combater a lagarta. E os produtos capazes de eliminar a Helicoverpa existentes no mercado internacional não têm licença para a importação”, apontou Pinesso.
De acordo com o presidente da Abrapa, a praga não existia no Brasil, mas a lagarta se transforma em borboleta e consegue voar até mil quilômetros, bota ovos e gera novas lagartas, o que explica seu surgimento nas lavouras algodoeiras do País. “Ela come a maçã do algodão com tal voracidade que destrói toda a plantação”, disse Pinesso.
Para o dirigente da entidade, não procede, entretanto, a preocupação ambiental com a importação de defensivos já testados em outros países. “Estão fazendo mais de dez aplicações quando, se tivessemos as ferramentas adequadas, estaríamos realizando apenas duas. Menos impacto para o meio ambiente e menos custo para o produtor.”
O dirigente da Abrapa destacou que o Brasil é o terceiro maior produtor mundial do algodão e contribui decisivamente para garantir matéria-prima à indústria têxtil nacional, uma das maiores fontes de geração de emprego no País.
Reunião ministerial Também presente na coletiva, o representante da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA) e integrante da Comissão da Agricultura da Câmara, deputado federal Oziel Oliveira (PDT-BA), afirmou que as perdas não são somente econômicas, mas também sociais e ambientais.
“Na região oeste da Bahia, onde o algodão emprega muitas pessoas, já se registra desemprego na cadeia produtiva, reflexo dos prejuízos causados pelas perdas no campo”, comentou o parlamentar.
O deputado aprovou na Comissão da Agricultura uma convocação de ministros do governo federal para debater uma solução ao problema. Em resposta, a ministra-chefe da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, ofereceu uma reunião de trabalho para tratar do tema, nesta quarta-feira, no Palácio do Planalto.
Fonte: DCI