Uma nova alternativa para estimular a entrada de produtores no mercado de capitais e de investidores interessados no agro foi debatida em uma live promovida na noite dessa terça-feira, 1. Com a participação de representantes do governo, mercado financeiro, Congresso e entidades do setor, foi exposto como vai funcionar o Fiagro – Fundos de Investimento do Setor Agropecuário. A proposta, apresentada pelo deputado Arnaldo Jardim (Cidadania-SP), busca atender a um momento de transformação do crédito rural no país em que os recursos privados terão cada vez mais peso no financiamento do agro. A live é uma parceria do Canal Rural com a Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA).
“É a possibilidade de trazer mais recursos para serem investidos no setor. Vão se constituir, a partir da aprovação desse projeto, fundos. As pessoas podem participar disso adquirindo cotas”, resumiu o parlamentar.
O secretário adjunto de Política Agrícola do Ministério da Agricultura, José Ângelo Mazzillo, afirmou que a pasta apoia a iniciativa. Segundo Mazzillo, o Fiagro vai ao encontro de mecanismos que o Executivo tem buscado para um setor que demanda mais crédito e tem encontrado dificuldades pelo caminho. “De um lado gente com muito dinheiro que não tem boas alternativas de investimento. De outro lado, um agro pujante, que, com bom nível de segurança dá uma rentabilidade superior as alternativas que hoje estão à disposição de quem tem esse dinheiro”, pontuou.
Arnaldo Jardim explicou que, além de investidores adquirirem cotas dos fundos, produtores poderão ofertar sua propriedade e também receber cotas. Pode funcionar ainda, disse, como uma alternativa para investidores internacionais, que hoje, por exemplo, tem um impedimento da legislação de adquirir terras no país. “Eles vão aplicar nesses fundos em vez de comprar uma propriedade”, afirmou. Ele reforçou que o Fiagro é uma opção de investidores e produtores participarem de um mercado que tem baixas taxas de juros e pode oferecer melhor remuneração.
Na visão do coordenador técnico da FPA, João Henrique Hummel, o Fiagro representa a profissionalização da gestão patrimonial e da produção. “Se esses fundos forem aplicados, eles não vão ser só uma forma de pegar recurso para o setor rural. Eles vão ser uma profissionalização, vão ser um exemplo do que estão demandando para gente na sustentabilidade dentro desse processo”, esclareceu.
“O poder disruptivo do Fiagro é que, uma vez entrando administradores profissionais do mundo financeiro no agro, vamos melhorar a governança, melhorar a gestão do agro e vamos iniciar um ciclo virtuoso”, completou o secretário adjunto de Política Agrícola do Mapa.
O sócio da Área de Investment Banking da XP Investimentos, Bruno Novo, também enxerga o bom potencial de fundos voltados ao agro. Isso porque, de acordo com ele, existe um interesse de investidores em aplicarem nesse setor e a formatação do Fiagro nos moldes dos fundos imobiliários trazem perspectivas positivas. “A gente pega todo o aprendizado que a gente teve dos fundos imobiliários e traz para mundo do agronegócio. A gente já teve duas ofertas de fundos imobiliários no ano passado e neste ano focados no agronegócio e foram extremamente bem recebidas”, informou lembrando que para isso foi preciso fazer ajustes em cima da legislação criada para atender a construção civil. “A partir de uma lei com foco no agro, a tendência é deslanchar esse tipo de fundo para o setor”, avaliou Bruno Novo.
“Os fundos imobiliários urbanos são um sucesso, crescem assustadoramente nas bolsas de mercadoria. Por que a agricultura tropical não pode participar disso, ser um exemplo, uma vantagem?”, acrescentou João Henrique Hummel.
Os convidados reforçaram ainda que o Fiagro será uma oportunidade para pequenos e médios que hoje tem dificuldade de acesso ao mercado de capitais. “Essa especialização vinda no fundo agro vai abrir uma avenida de captação. Uma pessoa que entende os riscos dos médios e pequenos produtores rurais vai poder dar liquidez ao setor que hoje ou só vai para o Plano Safra ou fica preso nas grandes instituições financeiras e não consegue acessar o mercado de capitais”, ponderou Bruno Novo.
O sócio da XP Investimentos deu como exemplo o mercado imobiliário. Até dois anos atrás o CRI (correspondente ao CRA – Certificado de Recebíveis do Agronegócio) era acessado apenas por pessoa física. E atualmente, disse, mais de 60% das operações são feitas para fundos imobiliários, após a oferta dessa alternativa.
O coordenador técnico da FPA avaliou que o Fiagro será um facilitador e uma forma de democratizar o acesso ao mercado de capitais. “O agro vai cada vez mais criar oportunidades para os pequenos e médios que queiram fazer bem feito e, com isso, vão precisar de capital de giro e área específica que vai trazer remuneração para quem acredita na agropecuária brasileira”.
Mas, porque só agora surgiu uma proposta nessa formatação do Fiagro? Na opinião do deputado Arnaldo Jardim era preciso ter um amadurecimento do país, ter um momento com taxas de juros mais baixas e uma transformação do processo de financiamento do setor. Ele destacou que o Plano Safra está deixando de ser o grande financiador da agropecuária. Além disso, houve a aprovação de legislações como a Lei do Agro e a que possibilita, com regras claras, a recuperação judicial para produtores rurais. “Se criou toda uma conjuntura para esse amadurecimento”, argumentou.
Tramitação
Conforme o deputado, a proposta teve boa receptividade tanto na bancada do agro como pelo governo. Na próxima terça-feira, anunciou, a FPA vai promover um encontro para debater o texto com investidores, representantes de fundos, operadores de fundos etc. Ele não acredita numa aprovação ainda este ano já que o Congresso deve encerrar seus trabalhos até o dia 20. Porém, vai atuar pela aprovação de um requerimento de urgência – recurso que coloca o texto na prioridade da pauta de votação. E a ideia é votar o projeto já no início de 2021. “Vou brigar muito para que rapidamente seja aprovado e peço a mobilização de todo o setor”.
O secretário adjunto do Mapa defendeu que instrumentos como o Fiagro estejam no foco do setor nesse momento em que existe maior liberdade de atuação do setor privado. “Temos que ousar e parar de desperdiçar oportunidades. Vamos abraçar a liberdade econômica e vamos construir o maior agro do mundo. Mas, precisamos do apoio de todos”, concluiu.
O sócio da XP Investimentos acrescentou que o agro é uma potência e é preciso saber explorar a poupança do brasileiro. “O brasileiro hoje investe muito mal. A gente precisa ajudar ele a investir melhor e acho que a gente está dando esse passo, um passo muito importante”.