A conquista de novos mercados para os produtos do agro brasileiro foi debatida em live realizada, na noite dessa terça-feira (24), pelo Canal Rural em parceria com a Frente Parlamentar da Agropecuária. Representantes do governo e do setor produtivo apontaram os caminhos que levaram o país a ultrapassar a marca de 100 aberturas de mercado desde o ano passado, as oportunidades e os desafios do comércio internacional para a agropecuária do país.
Um trabalho mais articulado entre os Ministérios da Agricultura e das Relações Exteriores e o foco na demanda do setor privado foram apontados como decisivos para o sucesso em um ano em que o mundo enfrenta uma pandemia.
“Isso fez com que nós pudéssemos convergir esforços e elaborar uma estratégia que viesse ao encontro daquilo que o setor produtivo de fato deseja exportar. Não adianta o governo trabalhar em abertura de mercados que não estão alinhados com o timing comercial, com o que é importante para o setor privado”, afirmou o diretor de Temas Técnicos, Sanitários e Fitossanitários do Ministério da Agricultura, Leandro Feijó.
Ele informou que o país alcançou mais quatro mercados e atingiu 104 após a divulgação do balanço do Ministério da Agricultura, no final de outubro. E anunciou ainda a confirmação, nessa terça-feira, da abertura do México para ovos.
Conforme o diretor de Promoção do Agronegócio do Itamaraty, ministro Alexandre Peña Ghisleni, esse é o melhor desempenho do Brasil dos últimos anos. “O que fizemos foi aproveitar essa presença que nós temos em 120 países para continuar contatos e conversas para que a gente pudesse ir avançando nas tratativas”, explicou ao se referir a atuação dos adidos agrícolas e dos diplomatas brasileiros em um ano em que as missões comerciais presenciais ficaram suspensas.
Ghisleni fez questão de destacar não só o número, mas a diversificação de mercados alcançados no período 2019/2020. Houve, por exemplo, a abertura do gergelim para a Índia; melão para a China e castanha de baru para a Indonésia. E ainda produtos de alto valor agregado, como material genético avícola para Emirados Árabes Unidos e Marrocos.
Já o diretor executivo da Única (União da Indústria de Cana-de-Açúcar), Eduardo Leão, contou que o ano de 2020 começou como uma “tempestade perfeita”, mas deve finalizar de forma bastante positiva para o setor sucroenergético. O efeito inicial da pandemia do novo coronavírus foi a redução da mobilidade. Com isso, houve queda no consumo de 25% a 30% de combustível – o que acertou em cheio o mercado de etanol. A atuação rápida do setor privado, aliada à quebra na produção do açúcar em países com produção importante, como Tailândia e Índia, reverteram esse cenário.
“Isso abriu um espaço grande para o mercado brasileiro. E as usinas souberam aproveitar essa oportunidade, transformando uma boa parte da produção do etanol em açúcar”, relatou. Segundo Leão, 2020 vive uma situação de déficit global de açúcar. E o Brasil produziu 10 milhões a mais de toneladas do produto, excedente todo direcionado ao mercado internacional. Ele ainda mencionou que a não renovação da salvaguarda chinesa ao açúcar brasileiro a partir de um painel instalado na Organização Mundial do Comércio (OMC) também beneficiou o setor sucroalcooleiro. Somente em outubro, o açúcar nacional teve aumento de 121% em valores nas exportações em relação ao mesmo mês de 2019.
Desafios e oportunidades
Leandro Feijó e o ministro Alexandre Ghisleni concordaram que um dos grandes desafios daqui para frente será ampliar o fluxo comercial após essas novas aberturas de mercado. Para isso, afirmaram que será necessário um trabalho intenso de promoção comercial. A ideia é colocar os exportadores nacionais em contato direto com os importadores. Assim, poderão entender as demandas reais e restabelecerem o comércio.
“O desafio é mobilizar o setor privado para que a gente consiga colocar o produto lá e estabelecer uma relação permanente com importadores locais. Para que esse trabalho de abertura se traduza em fluxo de comércio e, consequentemente, em geração de renda, e emprego aqui no Brasil”, ressaltou o diretor de Promoção do Agronegócio do MRE.
Feijó acrescentou que é preciso entender e atualizar as demandas do setor privado brasileiro e dos importadores. Também previu um cenário positivo com mais oportunidades para o setor. “Temos, no nosso portfólio, mais de 600 negociações envolvendo diferentes produtos para abertura de mercado para os produtos do agro brasileiro”, revelou.
Eduardo Leão colocou como desafio a superação de barreiras comerciais que o açúcar brasileiro ainda enfrenta. Ele elogiou a atuação do governo brasileiro junto à Organização Mundial do Comércio (OMC) com negociações bem-sucedidas em três painéis ocorridas nos últimos quatro anos com China, Tailândia e Índia (ainda em andamento). “De um lado, temos que garantir que o Brasil explore o potencial que existe nesses novos mercados, mas também trabalhar para evitar essas barreiras”, disse.
Como oportunidade, Leão citou a criação de um programa para o etanol na Índia, inspirado no modelo brasileiro. A ideia é converter a produção de excedente do açúcar que é escoado hoje de forma altamente subsidiada no biocombustível para consumo interno. A perspectiva é que a Índia aumente a mistura do etanol na gasolina de 5% para 20% até 2030. O país deve ampliar seis vezes sua frota de veículos nos próximos 20 anos, informou.
“Ganha o mercado mundial de açúcar, ganha o produtor indiano. E ganha o Brasil no sentido de possibilitar um comércio global de etanol”, explicou o diretor da Única.
Diversificação
Nos últimos anos, informou o ministro Ghisleni, houve uma migração no eixo exportador dos produtos do agro brasileiro para a Ásia. O Brasil tem ainda presença importante na União Europeia e nos Estados Unidos, por exemplo. Mas tem crescido suas vendas para a China, Japão, Coreia, Sudeste Asiático, Paquistão, Bangladesh e países árabes, mencionou.
“Há uma grande diversificação. Hoje em dia, quando você fala das exportações do agro brasileiro, você pode falar de macrorregiões. É verdade que a gente exporta muito para a China, mas a descrição mais correta seria que nós somos um ator global”, ponderou o diretor do MRE.
Eduardo Leão fez avaliação semelhante. Conforme o diretor da Única, há 15 anos, entre 50% e 60% do açúcar brasileiro tinham como destino a União Europeia. Hoje, esse percentual é de 5%. A maior demanda está na Ásia e África, em decorrência de um maior crescimento econômico, aumento da renda e da própria população, esclareceu o diretor da Única.