O auge da colheita de uma safra recorde colocou as regiões agrícolas como uma das poucas estrelas no estagnado consumo brasileiro. Levantamento feito no primeiro quadrimestre pelo Google, com exclusividade para o Valor, aponta aumento maior nas buscas por produtos e serviços nos Estados com forte economia agrícola do que no resto do país.
Em Mato Grosso, maior produtor e exportador nacional de grãos, as buscas no Google se destacaram em todos os itens de consumo que tendem a ser procurados quando as perspectivas da economia são animadoras móveis, fogões, lavadoras, TVs, geladeiras, celulares e carros. Nos serviços, há demanda por turismo, câmbio, seguro e previdência privada. A situação não foi diferente em Mato Grosso do Sul, Goiás, Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul e Minas Gerais.
Dependendo do setor, a procura registrada pelo Google nessas regiões chega a ficar dez pontos percentuais acima da média do Brasil, como no caso dos pacotes de viagens. Enquanto a procura por cruzeiros marítimos caiu 6% no país no primeiro trimestre, ela cresceu 1% nos Estados agrícolas. A sobreposição dos mapas da produção agrícola e dos cliques no Google dá uma dimensão mais ampla do impacto do agronegócio nas economias regionais, um movimento sentido nas ruas mas não devidamente mensurado nas estatísticas.
O avanço no consumo rural decorre de outro diferencial o emprego no campo não caiu. De janeiro a abril, as contratações tiveram seu melhor desempenho desde 2011, quando o Brasil vivia um “Pibão”. “Enquanto o nível de emprego como um todo recuou, no agronegócio ele cresceu 1,9%. É o emprego e a renda que dão lastro para o consumo”, diz Fábio Bentes, economista da Confederação Nacional do Comércio. “Quando as indústrias estavam fechando em São Paulo, a gente não sentia nada. Nossa moeda de troca é o grão. Aqui compramos casa com soja”, diz Marilene de Godoi, gerenteexecutiva da Associação Comercial e Empresarial de Sorriso, em Mato Grosso.
O agronegócio tende a sentir com atraso os impactos negativos da crise política, diz Adriano Pitoli, economista da consultoria Tendências. Importantes fontes de renda, como milho e soja, são mais sensíveis ao que ocorre na China, avalia.
Reprodução: Valor Econômico