No dia 5 de março, o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) invadiu e destruiu uma unidade da FuturaGene, empresa brasileira que desenvolve uma variedade transgênica de eucalipto há mais de 14 anos. De maneira coordenada, manifestantes da Via Campesina também interromperam a reunião da Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) na qual a aprovação comercial deste e de outros produtos seria discutida.
Os protestos reivindicavam segurança alimentar e criticavam os cultivos transgênicos. Essas ações chamam atenção para a desinformação sobre os organismos geneticamente modificados (OGM). Estudo publicado em janeiro pela revista “Science” também revela que há nítida diferença entre a opinião da comunidade acadêmica e da população em geral a respeito dos alimentos transgênicos. Enquanto 88% dos cientistas entendem que eles são seguros, entre leigos esse índice é de 37%.
Consequentemente, é provável que a sociedade não saiba que as tecnologias transgênicas disponíveis no Brasil incorporam benefícios à soja, ao milho e ao algodão. Sem as características agronômicas introduzidas nas plantas, a exemplo de tolerância a herbicidas e resistência a insetos, o agricultor brasileiro não teria atingido altos níveis de produtividade e evitado o avanço sobre áreas de proteção ambiental. Já o eucalipto em análise produz mais celulose, permitindo que áreas já destinadas a esse cultivo sejam poupadas.
O modelo brasileiro de avaliação da biossegurança de transgênicos é reconhecido como um dos mais completos e rigorosos do mundo. Os OGM são submetidos a testes toxicológicos, alergênicos, nutricionais e ambientais que passam pela análise da CTNBio, cuja legitimidade é baseada no caráter de excelência de seus membros.
O trabalho desenvolvido por esses pesquisadores envolve altos níveis de detalhamento e a Lei de Biossegurança (11.105/05) garante à sociedade o direito de se pronunciar democraticamente. Entretanto, manifestações violentas e autoritárias devem ser repudiadas. É inaceitável que o trabalho seja prejudicado e a segurança dos cientistas ameaçada.
O Brasil está entre os países que detêm um dos mais avançados conhecimentos sobre a agricultura tropical. Assim, a inovação que a biotecnologia agrega é uma evolução natural para a produção de alimentos. Os transgênicos são uma das ferramentas para melhorar a segurança alimentar, contribuindo para garantir o acesso regular e permanente a alimentos de qualidade e em quantidade suficiente.
Não será possível atender às demandas de uma população crescente se não enxergarmos a multifuncionalidade da agricultura e dos sistemas produtivos.
Os estudos, de curto, médio ou longo prazo e os anos de experiência acumulados na pesquisa e desenvolvimento demonstram que não há associação entre o consumo de OGM a qualquer prejuízo para a saúde humana, animal ou para o meio ambiente.
Diante de tais constatações, é urgente reconhecer o criterioso trabalho conduzido pelos nossos pesquisadores e pela CTNBio e que é necessário intensificar as ações de comunicação sobre avanços da ciência. Dessa maneira, o Brasil poderá continuar sendo pioneiro em tecnologia agrícola e assegurando seu compromisso com a sustentabilidade.
Adriana Brondani é diretora executiva do Conselho de Informações sobre Biotecnologia