*Glauber Silveira
A importância da soja na pauta de exportação brasileira é inquestionável. A soja há dez anos está dentre os cinco principais produtos exportados pelo Brasil, se alternando na liderança com minério de ferro e petróleo, e esteve no primeiro lugar em 2009, quando exportamos 17 bilhões de dólares, números do MDIC. E a sua importância não para por aí, ao longo desses anos a cultura transformou a realidade do interior do país, gerando progresso onde foi introduzida. Contudo, muito pouco tem sido feito em troca pelo Governo Federal.
Proteína mais barata no mundo, além de compor 40% da ração de frangos e suínos de granja no Brasil, a soja ainda segue para alimentar criações e bilhões de pessoas ao redor do mundo. Em 2012, foram 26 bilhões de dólares exportados pelo complexo soja, o que representa 11% de tudo o que o Brasil exportou, 27% do que o agronegócio brasileiro exportou e um terço do saldo positivo da balança comercial do setor. Ou seja, como os outros setores já estavam aí há uma década, e é claro que eles também cresceram, mas considerando o superávit da balança comercial brasileira geral, de 19 bilhões de dólares em 2012, se não tivéssemos a soja não haveria superávit, ponto final. Isto está muito claro, embora ninguém diga.
E os benefícios da cultura não param por aí. Motor do desenvolvimento no interior do Brasil, com a vinda da cultura, cidades e municípios inteiros emergiram onde antes não havia nada, como Primavera do Leste, Sorriso, Sinop, enquanto outros experimentaram um desenvolvimento espantoso como Rio Verde, Jataí, Luís Eduardo Magalhães, Vilhena e tantas outras. E foi assim, que o grão antes incompreendido, no qual chegou a ser oferecido de graça aos produtores do Sul, foi depois introduzido pelos colonos no Centro-Oeste, Nordeste e Norte e se tornou peça fundamental e pilar econômico de sustentação deste país.
E ao contrário do que se possa pensar, a soja no Brasil não é produzida por uma ou meia dúzia de empresas. Conta com mais de 220 mil pequenas, médias e grandes empresas de produtores, que geram milhões de empregos por todos os cantos do Brasil, cerca de 6 milhões de trabalhos diretos e indiretos. Onde tem soja tem desenvolvimento, no cerrado, ou nas regiões de fronteira do MAPITO e Oeste baiano, no Pará, em Rondônia. Onde tem soja o IDH é sempre melhor comparado com o resto do país e com o estado, basta ver os números do IBGE. Um exemplo, o IDH de Rondônia é de 0,75 que é considerado médio, contudo Vilhena teve seu IDH revisto no último ano para 0,84 que é considerado alto. E assim se repete em todos os municípios brasileiros produtores de soja.
Apesar de ser esse importante agente de manutenção do superávit da balança comercial e uma locomotiva de desenvolvimento social, pouco temos visto o Governo Federal fazer em troca pela soja. Os bilhões que a soja tem dado ao governo e que, merecidamente, parte deveria retornar em infraestrutura de transporte e escoamento, não tem acontecido. E assim, a duras penas, como se ignorasse que é quase impossível continuar a crescer, a soja cresce, enquanto produtores e sociedade pagam um preço alto por isto.
A grande verdade, dita por especialistas de todo o mundo, é que se o Brasil tivesse uma infraestrutura adequada, com fretes mais baixos e uma logística condizente com a grandeza dessa pátria e da sua produção agropecuária, as cotações dos grãos (soja, milho e trigo) nos mercados internacionais estariam mais baixas. Mas mesmo assim, o produtor brasileiro receberia o mesmo ou até mais.
Imagine que hoje, a um preço de 26 dólares a saca, o produtor paga 9 dólares de frete, sobrando 17 de renda bruta. Agora imagine que houve a revolução de logística e infraestrutura no país que todos esperamos. Resolvemos os eventuais problemas de frete de retorno, temos rodovias ideais, ferrovias para as maiores distâncias e hidrovias estratégicas funcionando. Esse frete poderia cair 30% segundo especialistas, ou seja, iria para 6,3 dólares por saca. Isso geraria um impacto positivo na intenção de plantar e os mercados internacionais reagiriam com uma perspectiva de aumento de produção e queda de preço. A cotação da soja poderia baixar para 24 dólares a saca (-7%), que o produtor ainda receberia mais, cerca de 17,7 dólares por saca (+4%). Ficou claro?
Além de tudo isso, a soja, ao contrário de outras matérias primas como ferro e petróleo que são finitas, é renovável. Além de fixar CO2, também fixa nitrogênio do ar para si e ainda deixa sobra no solo, dispensando adubos nitrogenados que consumem combustível fóssil. Isso significa um potencial enorme na rotação com outras culturas como o caso do milho, cana e pasto que dependem de nitrogênio do adubo.
E para finalizar, a soja soma 80% da matéria-prima para produzir o biodiesel brasileiro na mistura de 5% do diesel na bomba hoje. Trata-se de um combustível renovável, sustentável, oriundo da biomassa. Mas você já leu isso em algum lugar, alguma nota do Governo brasileiro? Portanto, ao contrário do minério de ferro e petróleo que são finitos, a soja bem manejada poderá infinitamente fornecer proteína e energia barata para o Brasil e para o mundo.
Não resta dúvida, trata-se de uma questão de priorizar o que é prioridade. O que a soja brasileira espera é apenas o reconhecimento do seu valor, tendo em contrapartida de tudo que tem feito pelo Brasil. Que receba em troca investimentos para que possa continuar expandindo em produção e mantendo o desenvolvimento do país. E não estamos falando de muito, basta garantir a conclusão da BR 163, de ferrovias estratégicas como a Norte-Sul, a FICO e a FIOL, ainda essa década. Basta tirar do papel a Hidrovia do Paraná, do Teles Pires-Tapajós, do Aranguaia-Tocantins. Será possível que estamos falando algum absurdo? Não, absurdo é não escutarem o que estamos dizendo!
*Presidente AprosojaBrasil