(Xico Graziano)
Análises ingênuas e maldosas interpretações costumam prejudicar a nossa agropecuária, manchando-lhe a imagem. Na teoria do aquecimento global reside a mais bizarra de todas. Segundo o Inventário Nacional, o gado bovino responde por 15,4% dos gases de efeito estufa lançados na atmosfera, enquanto a queima de combustíveis fósseis gera 15,1%. O estranho cômputo, quando divulgado, em 2014, deliciou tanto os ativistas vegetarianos quanto as montadoras. Philipp Scheimer, presidente da Mercedes-Benz, sacou rápido: “O automóvel tem sua parcela de participação no aquecimento global, mas não é o grande vilão”. São as vacas, complementou.
Duas premissas se estabeleceram no IPCC: 1) o metano expelido por pântanos e vulcões, que representa 40% do total, não é considerado na equação do aquecimento planetário, por não ter origem “antrópica”; 2) ao metano é atribuído, por suas características moleculares, um “poder de aquecimento” de 21 vezes acima do CO2. Ambas podem ser contestadas. Excluir o metano “não antrópico” (vulcões e pântanos) no efeito estufa resulta em ampliar, por decorrência, a contribuição relativa do metano gerado na agropecuária. Um peso, duas medidas.
Mas o xis da questão é outro. O metano “entérico”, qual seja, aquele gerado no estômago dos mamíferos ruminantes, origina-se na fermentação das gramíneas pastadas pelo animal. Acontece que, para crescer, as plantas forrageiras realizam a fotossíntese, capturando gás carbônico da atmosfera e liberando oxigênio, conforme se aprende no ensino fundamental. Ou seja, o carbono expelido pelo gado foi, anteriormente, fixado pelas pastagens. A Embrapa tem estudado esse “balanço de carbono” e, em certos casos, verifica mais captura, na agropecuária, do que liberação dos gases de efeito estufa. O IPCC, porém, não aceita essa metodologia de cálculo. Penaliza a pecuária.
Conclusão: a importância da pecuária no aquecimento do planeta é, na verdade, quase desprezível.