Especialista em agricultura de precisão, inglês esteve no Rio para falar sobre compactação do solo e como a robótica pode aumentar a produção no campo
“Nasci em Bedford, na Inglaterra, e tenho 60 anos. Sou sub-reitor da Harper Adams University e tenho doutorado em Ciência Vegetal pela Imperial College, em Londres. Vim ao Brasil a convite da Michelin para falar sobre a compactação do solo e o que pode ser feito para evitar isso.”
Conte algo que não sei.
Não há mais terreno no mundo para se transformar em área agrícola. As plantações estão crescendo pouco e, em alguns lugares, diminuindo em tamanho. Como a área não cresce, a qualidade do solo decai, por excesso de uso. Cerca de 33% do solo usado para plantações no mundo estão degradados. Isso ocorre principalmente por causa da compactação do solo, um problema global. O maquinário usado é pesado. Parte do meu trabalho, focado em agricultura de precisão, é buscar tecnologias para melhorar a eficiência das áreas que temos.
Como isso está sendo feito?
O governo britânico decidiu criar quatro centros de inovação. Um deles diz respeito à agricultura de precisão, do qual minha universidade e 70 empresas fazem parte. Buscamos aplicar na agricultura tecnologia que hoje não é usada nesta área, de empresas como Boeing ou Michelin. A Michelin, por exemplo, trabalha em pneus que reduzam a pressão sobre o solo, diminuindo a compactação. E aviões serão muito importantes para coletar imagens de plantações.
O objetivo é planejar a agricultura do futuro?
Sim. Estamos de olho na automação. Pensamos num futuro no qual humanos não serão necessários nos veículos, que serão autônomos. Talvez controlados pelo gerente da fazenda, em um escritório. O uso de tecnologia também será mais comum na colheita. Um projeto que temos é o de fazer crescer um hectare sem qualquer humano envolvido no processo. E tentamos criar um laser para remover erva daninha. Isso reduziria a dependência de herbicidas.
E como aplicar a robótica?
No momento, desenvolvemos uma máquina para colher morangos que replicará a mão humana. Ela terá que ter ótima visão, pois nisso os seres humanos são bons. Temos habilidade de identificar pela visão quando a fruta está madura. A mão humana é sensível, sabe exatamente quanta pressão aplicar nas frutas. Copiar isso é muito difícil.
Nesse cenário de automação, como fica a mão de obra?
Uma das coisas que estamos fazendo globalmente é treinar pessoas para serem agricultores. Mais estudantes cursam agricultura, e há universidades fabulosas no Brasil e no mundo. Ser fazendeiro está se tornando extremamente técnico. Temos um número cada vez menor de pessoas cuidando de áreas cada vez maiores. Por isso precisamos dos melhores. Ser agricultor terá que se tornar um emprego tão atraente quanto o de advogado, operador na Bolsa ou médico.
Como o Brasil está envolvido nesse processo?
O Brasil está à frente de muitas tecnologias, tem visão no que diz respeito a financiamento de pesquisas no setor. Vocês têm sorte de contar com organizações como a Embrapa, com cientistas que estão entre os melhores do mundo. Aqui, a adoção dos transgênicos foi rápida. Na Europa, a legislação é mais restritiva. Transgênicos não são a única resposta, mas importante ferramenta para que possamos seguir aumentando a produção de alimentos pelos próximos 30 anos.
Como mudar a ideia de que, se o solo não está bom, a solução é devastar para plantar?
Um dos problemas na Europa é que o dono não planta. Assim, fica propenso a tomar a atitude que você descreve. É difícil convencê-lo a preservar. É uma visão de curto prazo, com a qual a população não poderá contar num futuro em que teremos que alimentar nove bilhões de pessoas.7
Fonte: O Globo