Vinte e três por cento do Produto Interno Bruto brasileiro, quase 30% dos empregos do país e cerca de 80% do saldo comercial externo. Essas são algumas das credenciais que fizeram o agronegócio ter uma dimensão inédita e um lugar de destaque nas disputas eleitorais deste ano. Todos os candidatos incluíram o setor na pauta de suas campanhas e tiveram como estratégia a aproximação com líderes e entidades representativas do segmento.
Segundo projeções realizadas pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), o Brasil deve atingir a marca de 193,8 milhões de toneladas de produção de grãos ainda este ano, quase o dobro do que foi produzido em 2000, quando foram registradas 100 milhões de toneladas. Além disso, o país é líder na produção e exportação de café, açúcar, etanol de cana-de-açúcar e suco de laranja, o terceiro maior produtor mundial de frangos e possui o segundo maior rebanho bovino do mundo.
Ao analisar esses dados, fica muito nítida a importância do agronegócio para a economia nacional e, por isso, o segmento pode ser, claramente, considerado um dos motores que impulsiona o Brasil para o crescimento. Diante de tudo isso, a pergunta que fica é: o agronegócio vai realmente conseguir aumentar sua importância ou ao menos manter o patamar atual?
Os desafios para o governo, que se inicia no dia 1º de janeiro do próximo ano, e para o setor são bem conhecidos e é necessário encará-los de uma vez por todas para garantir o crescimento e desenvolvimento das atividades rurais. Profissionalizar o segmento, aumentar a eficiência operacional, criar empregos, fixar a população no interior com qualidade de vida e boas oportunidades, ampliar a competitividade global, investir em infraestrutura de armazenagem, transporte e logística e realizar um planejamento integrado de longo prazo para calibrar a oferta com crescimento do consumo esperado são alguns dos pontos primordiais que devem ser enfrentados.
Por outro lado, as empresas do setor também precisam estar preparadas e dispostas para se tornarem agentes ativos na melhoria das condições e crescimento da indústria. Na última década, com os preços de commodities mais altos, as atividades relacionadas à agricultura se tornaram mais rentáveis, atraindo os olhares de investidores, nacionais e estrangeiros, com interesses financeiros ou estratégicos.
As perspectivas para empresários do setor e investidores são enormes, visto que a área plantada de 53,3 milhões de hectares representa apenas 27,7% do território nacional e as previsões são de que nas próximas décadas o segmento poderá acrescentar outros 70 milhões de hectares de área para a produção de alimentos e energia. Essa incorporação se dará por meio de técnicas sustentáveis de produção, como a agricultura de baixo carbono e a Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF), sem a necessidade de derrubar uma única árvore.
Vale ressaltar que os gestores do agronegócio que almejam acessar recursos no mercado internacional, dentre eles dívida de longo prazo ou de equity, precisam avançar cada vez mais com a implementação da profissionalização da gestão e da boa governança corporativa, trazendo mais transparência e credibilidade, permitindo, assim, a criação de valor de forma consistente e sustentável. Por isso, os empresários do segmento têm que ter uma visão bem clara: uma empresa que não for estruturada e transparente terá mais dificuldades de conseguir novos investimentos e empréstimos.
O Brasil é um país diferenciado em termos de terra para plantio, clima e por possuir grandes extensões. Implementar uma gestão profissionalizada é a condição para captar novos recursos que tornem as empresas e, consequentemente, o setor mais robustos para enfrentar a competitividade mundial e elevar o setor a novos patamares, através de um desenvolvimento sustentável e orientação para ampliar a inserção do Brasil nas cadeias produtivas.
(Alan Riddell, sócio da KPMG no Brasil e líder para o setor de Agronegócio)
Diário da Manhã