No Brasil a cada safra fica mais difícil se produzir. Tenho participado de reuniões, todas as semanas, sejam em Brasília ou em outro local, e 90% dos temas tratados estão relacionados à restrições à produção. Ou seja, estamos gastando muita energia pedindo, por favor, ao governo que nos deixe produzir e se não quer ajudar ao menos não atrapalhe.
O Brasil virou o país do “não pode nada”, do “nada evolui”. A cada semana, nos vemos com uma nova norma, portaria, decreto ou lei que coloca restrições à produção. E estas que deveriam dar sustentabilidade à atividade, muito pelo contrário, têm trazido inúmeras restrições à vários aspectos que afetam nossa produção. Seja com uma nova norma relacionada à legislação de trânsito, à pulverização de lavouras, à regularidade ambiental, às normas de trabalho e do próprio produto.
Todas as semanas são horas discutindo os impactos de leis e regulamentos sobre a produção. E como fica claro que seremos impedidos de trabalhar, temos que a cada semana lançar mão dos parlamentares da FPA e da CNA, e assim marcar novas reuniões com o Governo. E ainda assim, mesmo de joelhos pedindo ao governo que nos ajude, talvez nos atendam, talvez não. E tem sido assim, seja para liberação de produtos para defesa vegetal, alguns há anos para serem registrado, seja para liberar a operação de um porto, seja para não mudar uma lei que nos torne escravos da atividade, isto se já não formos.
Estamos iniciando a maior safra que este país já teve, enquanto deveríamos estar nos reunindo com o governo para tratarmos do porto, da ferrovia, do armazém, da estrada, do incentivo à industrialização no país, da agregação do valor à produção, da ampliação e sanidade da exportação e do crescimento do agronegócio, mas não, as discussões estão tomando outros rumos. Isso porque, os temas que estamos debatendo junto com a FPA são: a terceirização da área meio, questão indígenas da PEC 215 e Defesa Vegetal/Agrotóxicos.
Enquanto a FPA deveria estar cobrando obras ao crescimento do agronegócio, gasta sua energia para permitir que continuemos a produzir. Presenciamos deputados comprometidos com este país implorando para que o Brasil não regrida, para que os interesses sejam em defesa dos brasileiros e não de ONGs com interesses internacionais e comerciais. Será que o governo, nem sendo vítima de espionagem, acorda que em seu seio está infiltrado o interesse de outros países e não o nosso.
Os produtores se obrigam a enfrentar não só a batalha da produção, afinal se espera colher alguns milhões de toneladas a mais, mas também as batalhas do “nada avança”, do “nada evolui”. Afinal, que porto foi ampliado, qual a estrada nova, a ferrovia que saiu do papel e começou a cortar o Brasil de leste a oeste, os buracos que foram tapados, a rodovia duplicada. Infelizmente, o crescimento da produção significa mais custos para nós.
Se já não bastassem as obras que não saem do papel, temos também planos agrícolas que não decolam. Caso não seja assim me questiono, quantos armazéns já foram liberados na nova linha? E o seguro agrícola? Porque os editais do Plano de investimentos em obras de infraestrutura anunciado pela presidente estão fracassando? Infelizmente, estamos presenciando uma centralização maléfica no governo, em que terceiros escalões mandam mais que ministros e com isto só vai para frente o que eles, na sua interpretação, entendem ser prioridade.
E nós produtores temos que travar batalhas intermináveis, temos que sair da produção e ir à Brasília para evitar que estragos maiores sejam feitos. Pedimos com frequência que liberem produtos, para podermos proteger nossas lavouras, além de debatermos com os índios para que terras produtivas centenárias continuem a produzir. Atualmente, estamos trabalhando para que se possa terceirizar a mão de obra no campo, algo que já é realidade para os nossos competidores e que gerou uma especialização do serviço nas lavouras, ou seja, maior produtividade – justamente um dos grandes desafios para o país continuar crescendo.
O Brasil se tornou uma nação engessada, com leis inexequíveis, o país da burocracia e dos custos altos. Isto tudo porque temos uma máquina governamental inchada, mas que não fiscaliza, não pune e não age. Com isto as leis elaboradas são restritivas, causando na sociedade a fictícia sensação de segurança e controle. E, por outro lado, nós estamos cansados de lutar, pedimos clemência e que, por favor, nos deixem produzir.
*Glauber Silveira – Presidente da AprosojaBR