Sim, a agricultura brasileira voltou a salvar a economia de um ano que poderia ter sido ainda pior
Investiu R$ 200 bilhões em 2012, dados do Ministério da Agricultura, e deve repetir este ano, metade em financiamento do governo, o que é dívida e os agricultores tiveram coragem de assumir e terão de pagar. Em consequência, a produção, que havia aumentado 2,1% no ano passado, deve registrar um crescimento espetacular de 8,6% na safra atual, de acordo com previsão da Conab. Vamos chegar a 180 bilhões de toneladas e isso, atentem, só de grãos e oleaginosas sem contar culturas como café, banana, laranja e – importantíssimo – cana.
Só no ultimo trimestre, a safra cresceu 3,1%. Não fosse essa exuberância de crescimento, certamente o PIB deste ano teria ficado ainda mais abaixo do 1%.
Outro Brasil silencioso. Em meio a tanta incerteza, com a indústria recuando, outros setores hesitando, os investimentos caindo, previsões dos analistas do mercado cada vez mais pessimistas, agora falam em 3% este ano, mas poucos acreditam. Os 30 milhões de agricultores brasileiros continuaram plantando, produzindo em silêncio. Pouco se fala deles na mídia, só quando as exportações aumentam, sustentando o único setor que ainda gera superávit. Depois, o silêncio, o esquecimento sobre o que se faz no campo. A exceção foi o excelente e esclarecedor editorial no Estado de segunda-feira “Recordes no campo.” Por que esse silêncio? Porque, ao contrário da indústria, da Fiesp, em vez de correr para a imprensa e reclamar, os agricultores absorveram o impacto, plantaram e continuam plantando. E isso vivendo nas mesmas condições, nas mesmas circunstâncias e desafios de todos os outros.
Eles têm o mercado lá fora. Um dos argumentos mais ouvidos para justificar essa diferença de atitude é que a agricultura e a pecuária crescem e exportam porque podem contar com as exportações, com a demanda do mercado externo, onde, apesar da desaceleração econômica, o setor de alimentos é o último atingido. Eles não sofrem a competição dos chineses no Brasil, dizem. É um argumento falso, como todos os outros que pretendem diferenciar a atividade industrial com a agrícola e pecuária dizendo também que a competição interna entre as indústrias instaladas no País é maior que a dos produtores agrícolas. A indústria opera com um número grande e variado de produtos; a agricultura, nem uma dúzia.
Tomem nota disto, leitores. “A agricultura brasileira exporta muito, é líder mundial em vários produtos – porque, repito, porque tem produtividade elevada, produz a custos menores, pode, sabe competir até mesmo com esse gigante agrícola que são os Estados Unidos do qual deve roubar a liderança no mercado de soja este ano! O Brasil já é uma potência agrícola e em ascensão, ao contrário de outros países.”
Coragem e empenho. É isso o que existe no campo brasileiro, esse “desconhecido”, que a coluna pretende divulgar. Querem um exemplo, muito bem lembrado no editorial do Estado de segunda-feira, em 2012 as exportações do agronegócio atingiram o recorde de US$ 95,8 bilhões, mas foram um pouco maior do que no ano anterior por causa da queda da demanda provocada pela crise mundial. Os preços caíram em média nada menos que 7,1% (sim, tudo isso, 7,1%!) Apesar disso, as exportações para a China, basicamente de commodities, e outros países aumentaram 8,9%. Desconte-se minério, fora soja, carne, milho, cana, café e outras lavouras. Mas, como, os preços caem e a receita aumenta? É simples. Em vez de ficarem chorando, os agricultores brasileiros aumentaram o volume físico das vendas, exportaram mais soja, café, milho…para compensar perdas e reduzir prejuízos. E estão plantando novamente, vão investir de novo R$ 200 bilhões, produzir uma safra de mais 8,6%, bater novos recordes. Isso se chama empreendimento.
Não há dúvida alguma, a agricultura salvou e tudo indica que vai continuar salvando a economia. Agora, é esperar pelos outros que não só não veem, mas recuam. Numa luta solitária e silenciosa, a agricultura, os 30 milhões de agricultores brasileiros, mais uma vez salvaram a economia. E tudo indica que vão repetir essa façanha quase “rotineira”em 2013, este ano, como veremos em próxima coluna. Um tema, um exemplo, uma lição da mais alta importância que os brasileiros precisam conhecer.
Alberto Tamer – O Estado de São Paulo