O Brasil é, atualmente, referência mundial quando o assunto é reciclagem de embalagens de pesticidas, com o reaproveitamento de 95% dos recipientes utilizados no país. Durante a reunião-almoço da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA) realizada nesta terça-feira (21), o diretor-presidente do Instituto Nacional de Processamento de Embalagens Vazias (Inpev), João César Rando, destacou que todas as embalagens de defensivos agrícolas vendidos no país são recicladas, transformadas novamente em embalagem do mesmo produto ou incineradas em local apropriado.
“Ao longo de 20 anos, constituímos um programa de logística reversa que garante a destinação ambientalmente correta de embalagens vazias de defensivos agrícolas reconhecido mundialmente e que se tornou referência para outros setores,” disse o presidente.
João César explica que na França, por exemplo, o índice de reaproveitamento é de 77%; no Canadá e na Alemanha, de 73%, e no Japão, de 50%. “Nos Estados Unidos, país desenvolvido, com dimensões na agricultura parecidas com as do Brasil, esse índice é de 33%,” completou.
Presidente da FPA, o deputado Sérgio Souza (MDB-PR) destacou a importância da logística reversa para a preservação do meio ambiente. “O Brasil é o país que tem a agricultura mais sustentável do planeta. Temos que mostrar isso para os nossos brasileiros. É uma mudança do agricultor a favor da humanidade,” disse.
Segundo o Inpev, os dados que apontam o Brasil como referência nesta logística reversa, com reciclagem de embalagens de pesticidas, foram compilados com informações do retorno das embalagens de defensivos agrícolas de 60 países.
De março de 2002 a dezembro de 2021, a instituição superou a marca de 650 mil toneladas de embalagens vazias retiradas corretamente do campo – peso equivalente a 570 estátuas do Cristo Redentor no Rio de Janeiro. Desse total, apenas no ano passado, foram 53,6 mil toneladas.
A cadeia desenvolvida pelo Sistema Campo Limpo, programa instituído pelo Inpev, é referência em logística reversa e exemplo de aplicação do conceito de economia circular. Segundo João Cesar Rando, o Sistema possibilita que, de cada 100 embalagens vendidas, 93 retornem ao processo produtivo após seu uso no campo.
“Este processamento origina novas embalagens de agroquímicos, seguras e certificadas, além de outros artefatos aplicados em uma série de setores como no campo, na construção civil, na energia e na indústria automotiva”. O volume que não pode ser reciclado – cerca de 7% do total, segundo ele, – também é destinado de forma correta.
O deputado Alceu Moreira (MDB-RS) ressaltou o papel da Bancada em acompanhar de perto a questão da logística reversa. “Do ponto de vista ambiental, esse é um trabalho perfeito, nenhuma outra frente no mundo tem o grau de eficiência que temos aqui”, frisou.
Além do impacto positivo que a existência do programa gera ao meio ambiente, João Cesar Rando ressaltou ainda que foram mais de 899 mil toneladas de CO2 que deixaram de ser emitidas para a atmosfera entre 2002 e 2021 – capturado por 6,5 milhões de árvores. E, uma economia de energia elétrica suficiente para abastecer 5,2 milhões de residências durante um ano.
O Sistema Campo Limpo reúne a indústria fabricante, o canal de distribuição, os agricultores e o poder público. Cada um desses elos tem seu papel e sua responsabilidade definidas por Lei para promover a logística reversa e dar destinação ambientalmente adequada às embalagens de defensivos agrícolas.
A Lei 9.974/2000 regulamentou o destino das embalagens, criando atribuições e responsabilidades para indústrias, produtores e distribuidores. Esse resultado ganha relevância especialmente quando a Comissão de Agricultura (CRA), no Senado, promove duas audiências públicas interativas nesta quarta (22) e quinta-feira (23) para debater o substitutivo da Câmara ao projeto que moderniza o uso e produção de pesticidas no Brasil (PL 1.459/2022).
“O tema é muito importante e a Inpev é um exemplo. Faz um trabalho impressionante país afora. Diversos políticos do meu estado estão aqui porque acreditam que o tema pode ser levado para as cidades,” disse o deputado Nelson Barbudo (PL-MT).
“Se o mundo soubesse quanto estamos ajudando o meio ambiente, seríamos aplaudidos no exterior. Somos sustentáveis. Se a cidade seguisse o exemplo do campo, nossos rios estariam limpos e o meio ambiente agradeceria,” completou a deputada Aline Sleutjes (PROS-PR).
O Sistema está presente em todos os estados brasileiros e no Distrito Federal, somando 411 unidades fixas (postos e centrais de recebimento), além de recebimentos itinerantes que garantem a proximidade com produtores rurais que vivem em locais mais distantes das unidades.
Crise na suinocultura
Ainda, na reunião almoço da FPA, o presidente da Associação Brasileira dos Criadores de Suínos (ABCS), Marcelo Lopes, destacou que mesmo com o recente crescimento da produção de suínos e o salto de oferta ocorrido de 2019 a 2021, puxado pelo aumento da demanda chinesa, o Brasil vive uma crise no setor de suinocultura em 2022.
“O excedente de carne suína no mercado interno em 2021, foi piorado por um momento de perda de poder aquisitivo da população brasileira durante a pandemia, além do aumento no custo de produção que acabou dando início a crise da suinocultura que persiste até esse ano,” disse.
Marcelo ressaltou também que a previsão para este ano era de um primeiro semestre de dificuldades para a suinocultura, com o preço de venda do suíno em baixa e alto custo de produção. “O que não estava sendo previsto, era a piora desse cenário com a invasão da Ucrânia, e as sanções impostas à Rússia que acabaram acarretando mais crises para o mercado”, alertou.
Atento à situação, o deputado Sérgio Souza pediu união da Bancada para vencer o momento de dificuldade em que se encontra a cadeia da suinocultura. “Temos que achar uma solução para o setor e alavancar a cadeia”, disse o presidente da FPA.