A Comissão de Agricultura, Pecuária, Abastecimento e Desenvolvimento Rural (CAPADR) da Câmara dos Deputados realizou audiência pública, nesta sexta-feira (22), para discutir a possibilidade da falta de defensivos agrícolas já na próxima safra. A dependência do Brasil em relação aos insumos importados foi unanimidade entre as preocupações dos convidados e parlamentares.
Para a presidente da CAPADR e membro da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), deputada federal Aline Sleutjes (PSL-PR), o país não pode ficar refém dos das nações exportadoras e colocar em risco a própria produção. “Devemos enfatizar que durante décadas a falta de incentivos nos colocou na posição que estamos hoje diante desse problema, mas há solução. O Brasil e o mundo esperam de nós alta performance e sustentabilidade e nosso desenvolvimento depende disso”, garantiu.
A parlamentar entende que a mudança deve se iniciar diante das dificuldades e enxerga a busca por investidores que acreditam no agro brasileiro como uma solução a curto e médio prazo. “É importante buscar parceiros para essa retomada, que vejam o setor como ele é, o celeiro do mundo. E nós, um país que abastece a todos que necessitam”, concluiu.
O deputado Jerônimo Goergen (PP-RS), autor do requerimento da audiência pública, recorda que quando propôs o tema, a ausência de insumos era apenas uma possibilidade, hoje, segundo ele, é uma certeza. “A minha preocupação é no presente. Esse episódio provocou a ideia de que precisamos produzir e não depender mais de ninguém.
“Precisamos ser autossuficientes e avançar nesse sentido, construir uma ação para que o momento atual se resolva e o futuro não seja prejudicado. A solução estrutural, eu tenho certeza de que o Estado Brasileiro entendeu: precisamos produzir a nossa dependência de insumos externos”, disse Goergen.
Em relação à capacidade da indústria entregar os insumos em tempo e na quantidade que o Brasil consome, Carlos Goulart, representante do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), diz que a pandemia surtiu efeito real e deve impactar na próxima colheita. “O cenário é de eventual falta. Existem questões geopolíticas e de cadeias de suprimentos, mas vejo a nossa dependência como primordial para o estágio atual”, explicou.
Para o representante da Organização das Cooperativas do Brasil (OCB), João Prieto, o preço está exacerbado por questões logísticas e geopolíticas dos países responsáveis pelas produções. De acordo com Prieto, a questão liga um alerta para a necessidade do incentivo à produção interna. “Devemos explorar com responsabilidade e fomentar a produção nacional. A questão estratégica é fundamental para qualquer país, ainda mais com o setor produtivo como o nosso”, esclareceu.
Na opinião de Fabrício Rosa, diretor-executivo da Associação Brasileira dos Produtores de Soja (Aprosoja), se existia um problema logístico, deveria ter sido informado com antecedência. Segundo ele, demoram de dois a três meses para desembaraçar uma situação assim no mercado. “Havia condições de sermos avisados. Precisamos de transparência sobre como isso será tratado, pois ano que vem o problema continuará ao que tudo indica”, alertou.
Para Fabrício, alternativas para mitigar a dependência externa devem estar na pauta do Congresso em caráter de urgência. “O parlamento precisa encarar com responsabilidade e de forma técnica, para que as soluções cheguem e a produção brasileira continue sempre sustentável”, finalizou.