Dilceu Sperafico*
Os desafios do agronegócio brasileiro nas próximas décadas serão proporcionais às preocupações de governantes do mundo inteiro.
Em outras palavras, produzir, distribuir e garantir alimentos para a população humana, que deverá superar os nove bilhões de habitantes em 2050. O alerta vem sendo feito pela Organização das Nações Unidas Para a Alimentação e a Agricultura (FAO).
Isso porque o aumento da produção de alimentos nos próximos 35 anos, em volume suficiente para atender a demanda dos consumidores humanos não dependerá apenas da expansão de plantações, criações, indústrias e estabelecimentos comerciais do setor.
Para que se alcance a meta de ampliar a oferta de alimentos básicos, além do crescimento da agropecuária, será necessário encontrar meios de controlar ou reduzir os efeitos negativos de alterações climáticas, desde enchentes e secas, até desastres naturais, como os vendavais e tempestades de granizo.
Todos esses fenômenos, como se sabe, se refletem na frustração de safras e redução da colheita e da qualidade de grãos, frutas e hortaliças, entre outros alimentos.
O clima, portanto, está entre os principais fatores determinantes para que se alimente a crescente população mundial, com produtos que atendam às suas necessidades, em termos de qualidade, diversidade e sustentabilidade.
No Brasil, a seca que atingiu o Nordeste nos últimos cinco anos resultou na perda de 50% da produção de alimentos tradicionais.
Nas comemorações do Dia Mundial da Alimentação, em 10 de outubro do ano passado, tendo como tema “O clima está mudando. A alimentação e a agricultura também devem mudar”, a questão alimentar voltou a ser debatida em diversos países, reforçando as advertências sistemáticas da FAO.
Conforma instituição, se o número mundial de habitantes realmente superar os nove bilhões em 2050, para que não haja fome disseminada pelo planeta, a produção agropecuária e agroindustrial precisará aumentar em 60% para assegurar o equilíbrio da segurança alimentar.
Para atender às demandas do mercado e da atividade produtiva, segundo especialistas, será necessária agricultura mais adaptada às mudanças climáticas, um pouco diferente do atual cultivo menos técnico, sustentável ou ambientalmente amigável, o que dependerá de muitos investimentos em pesquisa e tecnologia.
Será necessário, por exemplo, desenvolver e multiplicar variedades de alimentos mais resistentes às variações de precipitação, de calor e de frio, visando uma agricultura adaptada às mudanças climáticas.
Conforme técnicos da FAO, cultivar alimentos de forma sustentável significará adotar práticas que produzam mais com menos insumos na mesma área, recorrendo aos recursos naturais com maior sabedoria.
Em outras palavras, reduzir o desperdício e melhorar a colheita, a armazenagem, a embalagem, o transporte, a infraestrutura e o comércio do setor alimentício.
Por parte dos governantes, a FAO defende políticas públicas que facilitem o acesso dos mais pobres ao alimento, a partir da produção em quantidade suficiente e garantia da segurança alimentar para todos os cidadãos.
No Brasil, segundo a instituição, apesar da crescente produção agropecuária, cerca de 3% da população ainda enfrentam vulnerabilidade alimentar, mesmo depois do País haver saído do mapa da fome em 2014, graças às políticas públicas federais, estaduais e municipais e à maior oferta de alimentos, a preços acessíveis aos consumidores.
*O autor é deputado federal pelo Paraná