Dilceu Sperafico *
As utilidades da soja vão muito além da alimentação humana e animal. Seus derivados, além do óleo refinado e margarina, para consumo de humanos, e farelo, para a formulação de rações animais, incluem muitos outros produtos, utilizados pela indústria.
Para surpresa até mesmo de produtores rurais, que cultivam a leguminosa há décadas, seus derivados são utilizados inclusive para a fabricação de tintas, cosméticos, medicamentos, utilidades domésticas e alimentos alternativos.
A tinta a base de soja, por exemplo, pode ser usada na impressão de jornais e revistas no processo offset. Além disso, conforme especialistas, o produto é mais fácil de ser removido do papel no processo de reciclagem e possui cores mais vivas.
Na fabricação de cosméticos, o derivado da soja é conhecido como a lecitina, que é composto orgânico formado por um ou mais ácidos graxos. O produto é encontrado naturalmente na soja e pode ser utilizado na composição de cosméticos, como pomadas e cremes, que ajudam a evitar o ressecamento da pele humana.
Na indústria farmacêutica, a utilização de leguminosa é ainda mais ampla, pois o grão de soja contém grandes quantidades de isoflavonas, substância que reduz a degradação do tecido e do colágeno na pele, combatendo os radicais livres e ajudando na prevenção do envelhecimento.
Cápsulas contendo extrato de soja podem ajudar nestes tratamentos e, além disso, algumas proteínas da leguminosa oferecem benefícios comprovados na diminuição dos sintomas negativos da menopausa.
No aproveitamento de derivados para a produção de utilidades domésticas e industriais, mesmo que no Brasil ainda seja muito pouco utilizado, os norte-americanos já produzem espumas a base de soja há pelo menos 10 anos.
O material é destinado normalmente ao setor de móveis, além de ser utilizado por fábricas de colchões e até pela indústria automobilística. Na produção de alimentos alternativos, destacam-se o broto de soja e a leguminosa verde.
A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), vem se dedicando há anos no melhoramento genético da soja, visando o desenvolvimento de novas cultivares ou novos alimentos para o consumo humano.
De acordo com pesquisadores da instituição, uma equipe trabalha no desenvolvimento de alternativas para o consumo humano e já conseguiu linhagens avançadas em avaliação, que apresentam sementes pequenas para produção de brotos, sementes grandes para usos como soja verde ou “edamame”, e soja preta, que pelas suas propriedades antioxidantes pode ser ingrediente de alimentos funcionais. Segundo os especialistas, a soja verde, que é a planta antes de amadurecer, pode também ser consumida como amendoim.
A soja, produto de origem asiática, segundo historiadores, chegou ao Brasil em 1882, através da Bahia. Em São Paulo começou a ser cultivada por imigrantes japoneses, por volta de 1908, sendo introduzida no Rio Grande do Sul em 1914 e no Paraná em 1954.
Com a mecanização agrícola e a expansão do cultivo do trigo, o Rio Grande do Sul aumentou logo a produção da leguminosa e instalou fábrica para a industrialização da soja, com capacidade para 150 toneladas por dia.
No Paraná, a soja cresceu partir dos anos 70, com a redução de cafezais e a tradição de colonizadores gaúchos e catarinenses, que abriram e multiplicaram novas áreas de cultivo da leguminosa, que cresceram a cada safra, seguindo depois para as áreas centrais do País, inclusive no cerrado brasileiro.
*O autor é deputado federal pelo Paraná