A Comissão de Agricultura e Reforma Agrária (CRA) do Senado Federal realizou, nesta quinta-feira (21), audiência pública para debater a ameaça da falta de insumos para o plantio da safra 2021/2022. O vice-presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária, senador Zequinha Marinho (PSC-PA), autor do requerimento, defende uma estratégia política e diplomática para a resolução dos entraves e amenizar consequências a curto e médio prazo.
De acordo com Zequinha, a questão emergencial é o envio dos insumos ao campo e o trabalho nesse sentido deve ser realizado de forma conjunta, com o auxílio do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) e do Ministério das Relações Exteriores. “Sem insumos a produtividade cai violentamente e inviabiliza economicamente o plantio. A articulação é necessária para se manter, mesmo com sacrifício, essas importações”, afirmou.
O senador acredita que o Brasil deve se tornar menos dependente de insumos externos e explorar de maneira responsável o potencial que tem para garantir pelo menos uma parte da produção do que é necessário. Para ele, a dependência do país não combina com a reconhecida competência do setor produtivo. “O agronegócio brasileiro é competitivo, não parou durante a pandemia e é o principal responsável pelo sucesso da nossa economia. Devemos ser protagonistas positivos em momentos de crise e não ficarmos de lado”, acrescentou.
Para o presidente da CRA, senador Acir Gurgacz (PDT-RO), a crise global afetou diretamente o bolso dos brasileiros, além de entregar aos produtores um cenário desfavorável. Acir lembrou que as indústrias da China, Canadá e Rússia, principais exportadores, passam por dificuldades operacionais. “Todos esses fatores têm influenciado no aumento dos custos de produção e afetado o valor do alimento na mesa da população. É necessário buscar alternativas para baixar o preço dos insumos importados e isso requer uma estratégia bem-feita, de não dependência de terceiros”, disse.
No entendimento do senador Esperidião Amin (PP-SC), “se algum país vê o Brasil afogado, afunda ainda mais”. Para o membro da FPA, pensar na redução da nossa dependência exterior é primordial. “É ingenuidade não acreditar que é de interesse de outras nações a nossa precariedade. Devemos identificar os gargalos e restabelecer a saúde do setor produtivo, que é a saúde do nosso país”, pontuou Amin.
Alex Giacomelli, representante do Ministério de Relações Exteriores atribui parte do problema de insumos à estrutura oligopolizada, que precisa ser debatida. De acordo com ele, poucos países dominam o mercado internacional, o que causa uma preocupante falta de concorrência. Giacomelli ressalta que, em contato com empresas importadoras, foi informado da dificuldade da contratação de armadores para a entrega de insumos ao Brasil. “Diante desse quadro estamos indo atrás de mercados alternativos. O mercado internacional ainda tem disponibilidade de produtos, porém, com preços ainda mais altos”, informou.
“Nós nos acostumamos à importação pois a produção de insumos necessita de grandes investimentos. O Brasil nunca criou uma política bem definida de tributação e favorecimento de produção doméstica”, disse o representante do Mapa, Sérgio de Zen, ao referir-se às estratégias adotadas pelo país nas últimas três décadas. Na opinião de Sérgio, apesar do atraso, o Brasil possui condições de produção e uso de certos produtos. “Nós temos tudo em larga escala, somos um país abundante em matéria-prima. Falta uma política clara nesse sentido para nos desgarrar dos outros países, “finalizou.
Antônio Galvan, presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Soja (Aprosoja), recordou que os três países que mais consomem fertilizantes são os que mais produzem, incluído o Brasil. “O mundo tem inveja da nossa força. Eles sabem que podemos alcançar os Estados Unidos no que se refere à produção”. Segundo Galvan, pode ser feito um entendimento a nível mundial para os produtos necessários para a segurança da produção agrícola não ser refém de embargos. “A gente precisa focar no presente para que exista um futuro para nossos filhos e netos e isso deve ser resolvido com urgência”, concluiu.