A narrativa que envolve a agricultura brasileira precisa ser aprofundada
Por Alceu Moreira, deputado federal (MDB/RS) e presidente da Frente Parlamentar Agropecuária no Congresso Nacional
Na última semana a Anvisa aprovou o novo marco de classificação toxicológica de defensivos – conhecidos popularmente como agrotóxicos ou agroquímicos. A medida foi tema de debate na imprensa e nas rodas de conversa. Pela complexidade do assunto é necessário que se façam alguns esclarecimentos.
A medida atende uma orientação da ONU implementada completa ou parcialmente em 65 países num processo de 1992, em que a Europa concluiu há apenas dois anos. Ele não interfere diretamente no comércio ou liberação de produtos, que continuam com o mesmo rigor. O marco busca facilitar o entendimento dos agricultores na hora da leitura do rótulo, evitando assim contaminações ou usos indevidos. Mesmo assim somos tratados como se estivéssemos na contramão do mundo e dispostos a envenenar as pessoas.
Cumprimos as mais rigorosas exigências de quase 200 países. Ou estariam envenenando suas populações alguns dos nossos principais compradores, como União Europeia, EUA e Ásia? Evidente que não. No ano passado exportamos mais de US$ 100 bilhões.
Não somos o país com o maior consumo de defensivos se relacionado à densidade populacional e sequer estamos entre os dez em proporção às áreas cultivadas. E temos o clima tropical, que permite plantar e colher o ano todo, não contando com o frio para combater as pragas. Por isso se fazem necessárias moléculas modernas que demandam aplicação menor, garantindo segurança alimentar e ecológica. Até porque tal como no remédio, a eficácia é definida pelo emprego correto do receituário.
Os exemplos ilustram que a narrativa que envolve a agricultura brasileira precisa ser aprofundada. Não podemos servir como instrumento de forças externas que na verdade são nossos concorrentes e tentam interferir para reduzir nossa capacidade produtiva. Eles financiam ferramentas para difundir ideias orquestradas sob medida para populações urbanas e sem conhecimento sobre a agropecuária. Somos competitivos pela qualidade de nossos produtos e seremos mais, se, juntos, conseguirmos com que todos saibam a verdade sobre o que produzimos e vendemos mundo afora.