Em coletiva de imprensa realizada nesta terça-feira (29), na Câmara dos Deputados, a presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), deputada Tereza Cristina (DEM-MS), demais membros da Frente e entidades do setor produtivo nacional cobraram o fim imediato da greve pelos caminhoneiros no país. As manifestações já trouxeram prejuízos da ordem de mais de R$ 10 bilhões nas principais cadeias do setor agropecuário, além da falta de abastecimento da população.
Na ocasião, a presidente da FPA, deputada Tereza Cristina, afirmou que pediu ao governo federal segurança e escolta aos caminhoneiros que querem voltar ao trabalho e estão sendo impedidos por outros manifestantes. A deputada destacou que a FPA apoiou a manifestação no início, mas acompanha agora com preocupação os desdobramentos que já trouxeram perdas irreparáveis à produção do país.
“Estamos aqui com representantes do setor de aves, cana-de-açúcar, carnes, leite e hortifrúti para mostrar os impactos já gerados ao país, com a completa paralisação da produção de várias dessas cadeias. Isso se reflete na inflação, no abastecimento, nos preços dos alimentos para a população. Faço um apelo aos caminhoneiros para o fim da greve. Vamos retomar os empregos e a produção que abastece o Brasil e o mundo”, afirmou a deputada.
Para o presidente do Instituto Pensar Agro (IPA), que reúne 40 entidades do setor agropecuário, Fábio Meirelles Filho, o início do movimento foi justo, mas é preciso ter consciência dos estragos causados e destravar o país. “É necessário pensar como nação. O prejuízo é para todos os brasileiros”, disse. Segundo ele, já foram perdidos mais de R$ 1 bilhão com o descarte de leite e mais de 64 milhões de mortes de aves adultas e pintinhos. “Cerca de 1 bilhão de aves e 20 milhões de suínos estão recebendo alimentação insuficiente no momento e esse número pode aumentar”, apontou o presidente do IPA.
O vice-presidente da FPA, deputado Alceu Moreira (MDB-RS), afirmou que é necessário perceber que o prejuízo será pago por todos. “Estamos lidando com a falta de remédios, de equipamento em hospitais. Queremos que o Brasil volte a trabalhar”, destacou o parlamentar.
Segundo o superintendente técnico da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Bruno Lucchi, só no setor de produção primário os prejuízos já somam mais de R$ 6,6 bilhões, fora a indústria de processamentos e de insumos. “A população quem vai pagar por isso. Não é só o produtor. Vamos demorar muito tempo para reestabelecer a ordem”, afirmou Lucchi. O superintendente ainda complementou que medidas efetivas devem ser tomadas imediatamente para o cumprimento do direito de ir e vir de qualquer cidadão.
No setor de cana-de-açúcar, a presidente da União da Indústria de Cana-de-açúcar (Unica), Elizabeth Farina, faz um alerta para a paralisação hoje de todas as usinas e fornecedores da matéria prima no Estado de São Paulo. “São 310 mil empregos em jogo, 150 usinas completamente paradas. É um grave prejuízo ao combustível 100% brasileiro que ajuda na concorrência dos preços de mercado”, ressaltou Farina.
Leites descartados e animais sem alimentação
Para o vice-presidente da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), Ricardo Santin, mais 30% do prejuízo causado no setor vai parar na mesa do brasileiro, que já está arcando com preços abusivos dos produtos de necessidade básica. “Representamos as cadeias de suínos, aves e ovos. Diariamente, nossas produções sofrem perdas que chegam a bilhões de reais com descarte de produtos ou morte de animais. Vai faltar comida. Mais de um milhão de aves estão morrendo por dia”, afirmou.
De acordo com dados da Associação Brasileira de Laticínios, a Viva Lácteos, mais de 360 milhões de litros de leite foram descartados. Para o representante da associação, Gustavo Beduschi, as fábricas em todo o país vão demorar, no mínimo, um mês para voltar à normalidade de suas produções. Para o presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Leite (Abraleite), Geraldo Borges, a situação já passou dos limites. “As vacas leiteiras, sem alimentação adequada, estão parando de produzir leite. O país não pode mais passar por isso”.
Na presidência da Associação Brasileira dos Criadores de Suínos (ABCS), Marcelo Lopes faz um apelo aos caminhoneiros para que liberem os caminhões que transportam ração para animais. Segundo ele, são mais de 30 mil famílias que não conseguem alimentar seus animais, aqueles que ainda sobreviveram. “Teremos um desabastecimento total no país. Isso precisa acabar imediatamente”, informou Lopes.
Na cadeia de carne bovina, a situação também é crítica por falta de ração para os animais. O representante da Associação Brasileira de Frigoríficos (Abrafrigo), Paulo Mustefaga, afirmou que o setor de carne bovina já perdeu US$ 200 milhões em exportações e mais de R$ 400 milhões por dia na produção interna.
Exportação de soja
Na soja, a principal preocupação é com as exportações do produto. Segundo o diretor-executivo da Associação Brasileira dos Produtores de Soja (Aprosoja Brasil), Fabricio Rosa, os países importadores de soja brasileira estão tendo que buscar o produto em outras regiões concorrentes com o Brasil. Além disso, o escoamento da soja já colhida é um entrave diário sofrido pelas produções em todo o país.
O milho também sofre com a falta de insumos para começar a colheita que já deveria ter acontecido. O diretor estima que mais de 2,2 bilhões de toneladas de milho serão colhidas na próxima safra. “Somos cadeias interdependentes. O que reflete em uma, prejudica a outra”, disse Rosa.
Contenção de gastos federais e redução de tributos
Para o líder do PSDB na Câmara e ex-presidente da FPA, deputado Nilson Leitão (MT), as duas principais medidas para resolver o problema, não só a curto prazo, são a contenção dos gastos no Congresso Nacional, no Executivo e no Judiciário, além da redução dos tributos. “Um projeto de lei de minha autoria que isenta a produção de óleo diesel do PIS/Confins foi aprovado no plenário da Câmara na semana passada. Esse é o primeiro de muitos desafios para que possamos melhorar a situação”, disse o líder.
O problema que desencadeou a greve não é recente, segundo o líder. “Desde 2013, os caminhoneiros e transportadores de carga reivindicam a redução do preço do óleo diesel e sua tributação. Os governos não tomaram medidas para melhorar esse quadro, que foi só piorando. A manifestação foi legítima, mas tem que acabar”.
Para ele, um trabalho conjunto entre os governos estaduais, a Petrobras e o governo federal deve ser feito para solucionar o problema e garantir o desenvolvimento econômico e social do país. “O óleo diesel não pode ser instrumento de tributação, pois é um insumo importante para o Brasil”, apontou o parlamentar.
Falta legitimidade e segurança
Segundo representantes da categoria dos caminhoneiros autônomos e das empresas de transporte de cargas, há um claro movimento que quer denegrir a manifestação legítima do setor. Para o presidente da Associação Nacional de Transporte de Carga e Logística, José Fernandes, uma grande injustiça está sendo cometida com as empresas de carga. “Não temos segurança nas rodovias para aqueles que não querem mais aderir à greve. Estamos absolutamente à disposição daqueles que transportam e trabalham pelo país”.
Alceu Moreira (MDB-RS), alerta também para a enorme falta de segurança nas rodovias brasileiras para aqueles que querem sair do movimento. “O governo está tendo dificuldades de locomover esses caminhões. Recebemos ligações de centenas de caminhoneiros que querem voltar a trabalhar”.
De acordo com o vice-presidente da FPA no Senado Federal, Cidinho Santos (PR-MT), há relatos de caminhões que transportavam rações sendo queimados na Bahia. Para o deputado Alfredo Kaefer (PP-PR), membro da FPA, o reflexo dos impactos dessa greve no mercado internacional será extremamente prejudicial para a pauta de exportação do Brasil.
Confira a coletiva na íntegra: