Dilceu Sperafico*
Como o desempenho do mercado globalizado depende da oferta e demanda de bens de consumo em todo o mundo, é muito importante para o agronegócio brasileiro acompanhar de perto estimativas de cultivo e colheita de grãos nos principais países produtores e exportadores de alimentos, como são os casos da China, Estados Unidos, Índia e Rússia, além do próprio Brasil.
Afinal, após o seu anúncio, tais previsões se refletem imediatamente nas oscilações do mercado, elevando ou reduzindo os preços dos produtos citados, o que se repete na viabilidade e lucratividade da atividade produtiva.
As estimativas de plantio do agronegócio norte-americano para a safra 2018/2019, por exemplo, surpreenderam o mercado internacional e os especialistas do setor, pois incluem decisões que certamente se refletirão no comércio globalizado de alimentos e matérias-primas.
Conforme o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (Usda), as avaliações indicam a intenção de reduzir as áreas de cultivo de soja e milho e ampliar as lavouras de trigo e algodão.
Conforme levantamento do órgão, os produtores norte-americanos deverão plantar 36 milhões de hectares com soja na próxima safra, o que se confirmado, significará a redução de 500 mil hectares em relação à safra anterior.
A decisão surpreendeu o mercado, porque se esperava aumento de 300 mil hectares em relação à área cultiva em 2017. O mesmo ocorreu com relação ao plantio de milho, pois igualmente deverá ocupar espaço menor, de 35,6 milhões de hectares ou 900 mil hectares a menos do que no período anterior. O mercado até esperava redução na área do cereal, mas de apenas 300 mil hectares.
O anúncio da redução de área plantada com soja e milho influiu imediatamente no comportamento do mercado. O valor da oleaginosa,por exemplo, subiu 2,6% na Bolsa de Chicago, na mesma data da informação, nos contratos de maio. O milho subiu 3,8%.
Como já se esperava, a elevação dos preços da soja e do milho no exterior não demorou a influenciar as cotações dos mesmos produtos no mercado interno. A saca de soja, por exemplo, atingiu valores inesperados no Paraná e no Mato Grosso, alcançando cotações mais altas desde dezembro de 2016.
Efeito semelhante pode acontecer também com a informação sobre o aumento de 10 milhões de toneladas nos estoques norte-americanos de soja deste ano, em relação ao patamar do início de março de 2017. O país possui 57,3 milhões de toneladas da oleaginosa acumuladas nas grandes safras de 2016/17 e de 2017/18. O Brasil também pode ter outra grande colheita de soja neste ano, compensando a quebra da produção na Argentina.
Já com o trigo e o algodão, deverá acontecer o contrário, pois são previstas ampliações na área de cultivo e na produção. A área cultivada com algodão nos Estados Unidos deverá apresentar elevação de 7%, e a do trigo, de 3%, na nova safra.
Conforme especialistas, o plantio de algodão vai ganhar espaço nos Estados Unidos porque os seus preços estão melhores para os produtores daquele país, enquanto o aumento no cultivo do trigo representa apenas a reposição de área, que havia sido bastante reduzida na safra anterior.
Menos mal é que o acesso à essas previsões está facilitado pelos avanços dos meios de informações, especialmente da internet, hoje presente no campo e nas cidades, com qualquer tempo, 24 horas por dia.
*O autor é deputado federal pelo Paraná licenciado e chefe da Casa Civil do Governo do Estado