Dilceu Sperafico*
A silvicultura ou o cultivo de árvores, nativas ou exóticas, com objetivos econômicos, como a comercialização de madeira, frutos e outros produtos da floresta, não representa nenhuma novidade no setor produtivo do País e nações vizinhas, mas o sistema de agrofloresta está em franca expansão no agronegócio brasileiro.
No Norte de Argentina, na Província de Missiones, entre a fronteira com a cidade de Santo Antonio do Sudoeste e Posadas, por exemplo, há muitas décadas são cultivadas extensas áreas com a araucária e parte de propriedades cobertas de mata nativa são utilizados para a criação de bovinos, após a retirada de arbustos e desbaste ou poda de árvores de maior porte, com a abertura de espaços para o plantio de pastagens.
As florestas de araucária eram e continuam muito bonitas e atraentes, pois as fileiras de árvores frondosas se perdem no horizonte, lembrando a cobertura original do Oeste do Paraná, de onde os argentinos importavam a madeira nobre da espécie, juntamente com a de cedro, ao longo do período de colonização da chamada Fazenda Britânia, hoje território de muitos municípios do Oeste do Paraná.
Atualmente, a madeira de araucária produzida em Missiones, abastece todas as necessidades do país vizinho, incluindo a capital Buenos Aires. A grande diferença está no meio de transporte de toras, que deixaram de formar balsas para navegar nos Rios Paraná e da Prata, para lotar caminhões ou vagões de trens.
Com o passar do tempo, por sinal, os colonizadores do Oeste do Paraná e Centro-Oeste do País, constataram a importância da cobertura florestal para a produção agropecuária, dependente do equilíbrio ecológico, como qualquer multiplicação de espécies vegetais e animais. Por isso, não demoraram a preservar ou repor mata ciliares e reservas florestais mínimas, indispensáveis à qualidade e estabilidade do clima.
No Brasil da atualidade, o sistema de agrofloresta está se tornando aposta para a reestruturação de fazendas e ampliação das atividades e rendimentos do agronegócio. No interior de São Paulo, além do cultivo de espécies exóticas para a produção de madeira, como eucalipto, e frutíferas tradicionais, como laranja, maçã, banana e outras, muitas propriedades estão também investindo no plantio de árvore guanandi e de alimentos pouco conhecidos como araruta, mangarito e cará-moela.
No Vale do Paraíba, agricultores tradicionais estão investindo na agrofloresta como alternativa para o aumento e diversificação de renda, superando as dificuldades enfrentadas com as frustrações de safras e de comercialização dos últimos anos. A novidade chama a atenção dos vizinhos, especialmente das novas gerações, pois as árvores adotadas e os novos cultivos agrícolas são pouco conhecidos.
O guanandi é árvore da Mata Atlântica, com madeira nobre e muito procurada para a fabricação de móveis finos e também de navios. Como demora até 20 anos para atingir o ponto de corte, foi preciso buscar outros rendimentos durante esse período, o que ocorreu na composição de agrofloresta com produtos como araruta, mangarito, açafrão da terra e cará-moela.
Com a adoção do sistema agroflorestal, que consorcia a produção de madeira com alimentos, a atividade diversificada ganha cada vez maior espaço no manejo das propriedades, pois além de estabilizar a renda dos agricultores, atende as exigências ambientais e do mercado consumidor.
*O autor é deputado federal pelo Paraná e integrante da Frente Parlamentar da Agropecuária