Dilceu Sperafico*
O Brasil não só depende do agronegócio para a produção de alimentos de qualidade, saudáveis e a preços acessíveis, a exportação de excedentes e o equilíbrio da balança comercial e a geração de um terço dos empregos, renda e tributos do País.
O Brasil, em resumo, é um país rural. Nada menos do que 37% das atividades econômicas e sociais dos cidadãos brasileiros estão vinculadas ao campo.
Os dados constam de estudo do Conselho Nacional de Desenvolvimento Rural Sustentável (Condraf), divulgado recentemente, ressaltando a competência, dedicação e contribuição do homem do campo para o desenvolvimento econômico e humano do País.
Isso porque, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), os habitantes do campo representam apenas 15% da população brasileira.
Os dados são do IBGE, relativos ao Censo de 2010 e foram divulgados em 2012, quando a população brasileira somava 195,2 milhões de pessoas, mas merecem ser lembrados para dimensionar o êxodo rural no País nas últimas décadas.
Em 1940, por exemplo, os moradores urbanos eram 31,23% e os rurais 68,77%. Somente em 1970 a situação se inverteu, com os habitantes urbanos somando 55,92% e os rurais 44,08%.
Desde então, a urbanização do País se intensificou, com a migração de agricultores para as cidades, em busca de melhores condições de vida. Mesmo assim, a produção agropecuária só cresceu nesse período, graças à tradição e vocação do cidadão brasileiro para o trabalho e o agronegócio.
Está certo que o Brasil conta com privilégios, como extensão territorial, clima favorável, solo fértil e recursos hídricos abundantes, mas certamente não teria como manter e conquistar espaços no mercado globalizado, concorrendo com países com o potencial dos Estados Unidos, se não contasse com produtores eficientes e integrados à evolução da tecnologia.
O estudo do Condraf, vale ressaltar, concluiu que o conceito de vida rural está mudando no Brasil não apenas na atividade econômica, pois também levou em consideração o estilo de vida, os valores culturais e o cotidiano das pessoas.
Conforme especialistas, o levantamento inspira debates e reflexões sobre o novo Brasil que está em construção, através de políticas públicas para o meio rural e das próprias iniciativas dos produtores rurais.
Na verdade, nenhuma projeção ou ação governamental consegue acompanhar a velocidade da evolução da tecnologia, inclusive nas atividades produtivas.
São os casos das sementes geneticamente modificadas, os novos insumos e as máquinas e implementos, dotados de equipamentos e recursos impensáveis há alguns anos.
O interessante é que esses avanços acontecem silenciosa e simultaneamente em todo o País, mesmo em regiões mais distantes, como o Centro-Oeste, Norte e Nordeste, onde os agricultores se utilizam das mesmas tecnologias para produzir das áreas mais tradicionais.
Outro detalhe importante é que mais de 70% dos 5,5 mil municípios brasileiros têm menos de 20 mil habitantes, o que indica sua dependência da agropecuária, pois cidades de pequeno porte não atraem indústrias e lojas comerciais de maior expressão.
Como ressalta o estudo, o habitante da sede de município de cinco mil habitantes, mesmo sendo considerado morador urbano, não pode ser comparado com residente de metrópole como São Paulo.
O Brasil rural, portanto. é maior do que muitos avaliam, o que deve orgulhar a todos os brasileiros.
*O autor é deputado federal pelo Paraná