Zé Silva*
Organizado por diversas entidades do setor, os cafeicultores de Minas e de São Paulo realizaram, no final de abril, em Muzambinho, no Sul de Minas, um fórum sobre os principais desafios e gargalos da cafeicultura brasileira. O encontro reuniu mais de 600 participantes, que debateram e apontaram as possíveis alternativas para a sustentabilidade do setor, fundamental para a geração de empregos, divisas e renda no meio rural.
Quatro desafios e as alternativas para superá-los foram tratados no evento: a necessidade de preços mínimos para os cafés Arábica e Conilon; estruturação e aprimoramento dos processos de marketing para o café brasileiro; a criação de um seguro agrícola que vá além do Proagro, ou seja, que não cubra apenas as perdas por ações climáticas, mas garanta também os preços mínimos do café; e uma política pública para investir em segurança patrimonial, para resguardar as famílias e as propriedades.
São medidas muito práticas e focadas, para garantir que a cafeicultura siga na condição de um dos pilares da nossa economia, com participação relevante na formação do PIB. E, mais importante ainda, que a cafeicultura seja uma atividade o mais sustentável possível, considerando o papel extraordinário que desempenha em diversas regiões do país, e de modo especial em Minas Gerais.
Aliás, Minas avançou muito em questões fundamentais para a cafeicultura. Por exemplo, criamos e desenvolvemos na Emater-MG um programa para a qualidade do café, o Certifica Minas, de resultados inéditos na democratização dos processos de certificação, por meio da caracterização das propriedades que alcançaram uma produção de alta qualidade. A cafeicultura familiar foi alvo prioritário desse programa, que propiciou um aumento da renda com a atividade, conquistando novos mercados e preços mais justos para seus produtos.
Trata-se agora, como ficou apontado no Fórum de Muzambinho, de avançar nas questões desafiadoras que estão “da porteira pra fora”, como dizemos em Minas. De fato, estão relativamente equacionadas as questões técnicas da cafeicultura, mas, em se tratando de políticas de governo, ainda temos um longo caminho a percorrer.
Chamou a atenção no encontro a situação da segurança pública no meio rural. Não bastassem tantos desafios na atividade agrícola, temos agora esse flagelo da violência e do roubo também no meio rural. E essa é mais uma questão “da porteira pra fora”, a exigir ações de governo e de Estado.
Para ficarmos apenas num dos pontos abordados, os cafeicultores e outros agentes do setor propõem, para a questão de preços mínimos, que sejam condizentes com a realidade de produção. E essa realidade aponta preços mínimos de R$ 499,00 para a saca do café Arábica, quando de produção manual; de R$ 421,00 a saca de produção mecânica não irrigada; e de R$ 343,00 para o café de produção mecânica irrigada. Para o café Conilon, a proposta é de um preço mínimo de R$ 262,00 a saca.
A cafeicultura tem impactos positivos e históricos em nossa economia, sobretudo nas questões sociais como geração de empregos, enriquecimento cultural e enraizamento populacional. E trata-se, afinal, de uma das mais importantes cadeias produtivas do agronegócio brasileiro, com excepcionais potencialidades para a agroindustrialização, a geração de divisas e a alavancagem de outras atividades para nosso desenvolvimento.
Agrônomo, extensionista rural, deputado federal pelo Solidariedade/MG, escreve às quartas-feiras