Uma das poucas vantagens da longevidade sadia é ser testemunha ocular da história e poder narrá-la. O fato do Brasil não ter estradas com capacidade de comunicar o Sul e o Sudeste com o Norte e o Nordeste por terra, utilizando por isto a navegação de cabotagem, custou-nos muito caro, em perda de vidas e de material, durante a Segunda Guerra Mundial, face à ação mortífera dos submarinos alemães. As perdas só não foram maiores graças à ação patriótica e de sacrifício de nossa Marinha de Guerra, que, embora sem material adequado, no início de sua ação, fez-se ao mar, protegendo a nossa navegação costeira.
Coube a um “marinheiro”, o almirante Lúcio Meira, no governo JK, na década de 50 , como ministro da Viação, integrar por terra as capitais do Brasil a sua nova capital, Brasília.
Posteriormente, nas décadas de 60 e 70, durante a gestão no ministério dos Transportes, dos ministros Mário Andreaza e Elizeu Rezende, pôde se aumentar esta rede e tentar dar condições de tráfego e de segurança à malha viária rodoviária, já existente.
Este tipo de ação mereceu, como sempre dos mal informados, criticas por não ter sido realizada por meio da via férrea. Simplesmente por razão de custo e de demora no tipo de obra, para implantação da malha de via permanente, por trilhos.
Quando, durante a Segunda Guerra Mundial, em 1941, a Alemanha invadiu a União Soviética, um dos fatores que contribuíram para sua derrota foi o péssimo sistema de estradas, que encontraram, dificultando o tráfego de seus caminhões de apoio.
Por todos estes fatos, é fácil se entender a importância do transporte para o funcionamento da economia e o destino de uma nação.
Quando, em 1968, foi-me possibilitado um estágio de estudos na Alemanha fui surpreendido, por terem lá, naquela ocasião, o ministério da Economia e Transporte. Isto mesmo, num só ministério, em face da importância do transporte para a economia. Não sei se ainda é assim, o fato é que naquela época, em que o país crescia espetacularmente, esta organização funcionava perfeita e inteligentemente.
Todas estas considerações fizeram-se necessárias, por causa do noticiário do justo protesto dos caminhoneiros pelas suas dificuldades materiais e financeiras para exercerem o seu importantíssimo trabalho para a economia da Nação. Além de trafegarem em estradas, algumas indignas de esta classificação, da enorme carga horária de trabalho, sem nenhuma fiscalização, o risco permanente de serem assaltados, ainda sofrem agora, o aumento do diesel. Resolveram protestar, parando os seus veículos, entupindo as artérias de circulação da riqueza nacional, com o propósito de provocar uma reação, se possível rápida, do governo. Tudo como um reclamo justo ao desprezo que o atual desgoverno, também na área do transporte, não se emociona com a importância de viabilizar a nossa economia apoiando a circulação de nossas riquezas de exportação e de consumo das cidades.
Estão anunciando resolver com ação policial. E quanto ao motivo do protesto, não tomarão nenhuma medida construtiva, no sentido de fazer justiça que é, sem dúvida hoje, o grande reclamo nacional?
Governar não é só politicar, criando 39 ministérios, alguns de notória inutilidade e, alguns entregues a políticos neófitos, em busca de apoio político dos partidos, também em número escandalosamente exagerado.
Caberia á espoliada Petrobras, exaurida pelo roubo descarado, um verdadeiro crime de lesa pátria, ao menos subsidiar o diesel, ( a principal reivindicação dos grevistas) a exemplo da Itália, que possuía péssimas estradas na década de 60, as reformou e tornou-as perfeitas, socorrendo-se dos recursos de financiamento bancados pela sua companhia de nacional distribuidora de petróleo e, note-se, a Itália não tem petróleo..
Na atual conjuntura, onde a incompetência se alia á arrogância, não vejo, ao menos em curto prazo, uma solução completa para esta crise nacional, mais uma, das atuais existentes.
Numa visão, não apenas pessimista, mas realista, vejo o Brasil que eu amei e o servi, escolhendo a Marinha como vocação, ingressando em seus quadros durante a Segunda Guerra, com o propósito de formar na primeira linha defesa de minha Pátria,depois vivendo-a por mais de 25 felizes anos, está ameaçado de morte, por falência múltipla de seus órgãos.
Fonte: Jornal do Brasil