Setor pode perder fôlego nos próximos anos se não houver planejamento de longo prazo e investimentos pesados em logística
SÃO PAULO – Responsável por 22,8% do PIB nacional, o agronegócio é o setor da economia que vem sendo tratado como a grande locomotiva do País. Os números da agricultura brasileira explicam o motivo. Nos últimos 14 anos, o volume exportado cresceu 230%, os preços externos, 101%, e o saldo comercial, 468%.
Em 2013, movimentou R$ 1 trilhão, e as exportações bateram o recorde pelo segundo ano consecutivo. Dessa vez, atingindo o montante de US$ 101 bilhões, 4% a mais que no ano anterior, de acordo com o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea).
O Brasil é o maior exportador do mundo de café, cana-de-açúcar, suco de laranja e carne bovina – além de se destacar em várias outras culturas (veja quadro abaixo). O único produto agrícola brasileiro que não compete no mercado externo é o leite.
“O problema é que estamos acelerando sem os freios de segurança e qualquer curva mais forte pode nos arremessar pela tangente”, diz Gustavo Diniz Junqueira, presidente da Sociedade Rural Brasileira, que se refere a problemas como falta de infraestrutura, planejamento e até mesmo segurança jurídica, que podem comprometer o futuro do setor.
“Um dos maiores gargalos é a falta de logística”, diz o economista Fábio Chaddad, professor de Estratégia Competitiva, do Insper. De acordo com a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil, há um desperdício de 9% a 13% da soja durante o transporte até os portos. O prejuízo global é estimado em 9% do PIB do agronegócio. Para ter uma ideia, o frete de Sorriso – município mato-grossense com maior produção mundial de soja do mundo – até o porto de Santos, em São Paulo, subiu 42,3% durante o ano de 2013, justamente pela falta de infraestrutura para levar a mercadoria.
O desafio do setor é manter e ampliar os patamares da exportação, mesmo diante das deficiências de transporte. O Brasil investe menos de 2% do PIB em infraestrutura e logística.
“Desde 1990, o Brasil vem mudando a imagem no mercado mundial. O investimento em pesquisa e tecnologia no campo fez com que o País ganhasse o status de maior exportador agrícola do mundo”, diz Warren Kreyzig, analista de commodities agrícolas do Banco Julius Baer. “O Brasil tem dimensões continentais, e para avançar com sucesso, tem de desenvolver outras capacidades, e a infraestrutura é uma delas.”
Pecuária. O cenário mundial vem dando, digamos, um empurrãozinho ao agronegócio. Um bom exemplo são os embargos anunciados pela Rússia, no mês passado, às importações de vários países, entre eles Estados Unidos e Austrália. Com o veto, o Brasil saiu no lucro. Aumentou em 8,6%, a exportação para a Rússia, que se tornou o maior importador de carne nacional.
“O Brasil precisa se preparar melhor para a conquista de novos mercado. A produção de carne ainda é muito heterogênea”, diz Sérgio de Zen, professor do departamento de Economia, Administração e Sociologia da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq). A questão é que 60% da produção vem de pequenos produtores, com capacidade para comercializar de 20 a 300 animais.
“Para migrar de um sistema intensivo para altamente intensivo, o risco é maior. Faltam garantias de estabilidade das regras do setor. ” Aumentar de um animal para dois representa um investimento de US$ 1,5 mil em cinco anos.
“O produtor precisa ter garantia de que depois haverá mercado. Só o governo pode fazer isso, amarrando os clientes com contratos de longa duração”, diz Zen. Até agora, o maior protagonista do agronegócio brasileiro tem sido a iniciativa privada