Publicado em 05/07/2013 Enquanto manifestações pedindo melhorias nos mais diversos setores da sociedade acontecem nas grandes cidades brasileiras, produtores rurais se organizam no campo para uma manifestação diferente: pretendem paralisar a entrega de animais para abate no período entre 20 de agosto e 20 de setembro. Intitulado como “Semana da Dependência”, o movimento quer chamar a atenção para assuntos como a demarcação de terras indígenas e a prorrogação de dívidas, entre outros temas. Conforme Glauco Mascarenhas, pecuarista e coordenador do movimento, essa é uma ideia antiga de produtores rurais que pretendiam suspender o fornecimento de alimentos para chamar a atenção para uma série de problemas que vem acontecendo no campo. A mobilização começou a tomar corpo no início de junho no município de Dourados, no Mato Grosso do Sul, coincidentemente no mesmo período em que as manifestações populares explodiram pelo Brasil. “A coisa veio acumulando e estourou com a questão da demarcação de terras. Não se trata mais apenas de um motivo puramente econômico, mas também de vidas humanas, de conflitos, e o governo federal está deixando a coisa se desenrolar sem demonstrar uma atitude concreta para que isso termine. Entendemos que é a hora de fazer algo que dê algum impacto maior para que o governo tome alguma atitude. Temos uma experiência de que o governo não age nunca, apenas reage, e, então, tomamos essa iniciativa”, afirma. Mascarenhas informa que já existe adesão de produtores de todo o País, que se manifestam por telefone e também via redes sociais, ferramenta que está sendo utilizada na campanha. “Tem gente que distribui materiais no Mato Grosso, São Paulo, Goiás, no próprio Rio Grande do Sul e em Santa Catarina. No Mato Grosso do Sul, praticamente todos os sindicatos rurais aderiram. É difícil quantificar quantos produtores estão engajados, pois é um movimento aberto. Acredito que vá acontecer essa paralisação, se não de 100%, mas de forma que vá causar um impacto político e econômico muito forte”, avalia. O coordenador do movimento reforça que cada região tem uma pauta específica. No Nordeste, por exemplo, um pedido dos produtores é o alongamento de prazos para quitação de financiamentos agrícolas para os grandes produtores que foram atingidos pela seca na região, já que apenas a agricultura familiar foi contemplada com a prorrogação. Mascarenhas lembra também que existem demandas que estão diretamente relacionadas com a sociedade urbana. “Temos uma questão que envolve liberação da venda de etanol das usinas diretamente para as cidades, sem intervenção do Ministério de Minas e Energia. Isso vai causar um impacto econômico imediato, acreditamos que o preço pode ter pelo menos 50% de queda, o que vai impactar na gasolina”, salienta. Nesta semana, Mascarenhas esteve em Brasília para apresentar as demandas do movimento para os deputados da Frente Parlamentar da Agropecuária. Questionado sobre contatos com o governo, o pecuarista afirma que será apresentada a pauta antes do início das mobilizações. “O momento para o governo federal deve estar complicado, parece perdido. É cultural que o governo acredite que não há união na classe produtora. Não acreditamos que o governo vá se mexer antes de sofrer o impacto”, enfatiza. Segundo o secretário de Política Agrícola do Ministério da Agricultura, Neri Geller, o governo ainda não tomou conhecimento do movimento dos produtores e nem das reivindicações feitas pelos mesmos. “Aonde temos andado, temos visto que o setor está satisfeito com os planos e ações tomados. O próprio Plano Safra foi construído em conjunto com os representantes de entidades agropecuárias”, lembra. Geller afirma que o governo está aberto ao diálogo com os movimentos organizados para ouvir as reivindicações que estão sendo feitas. O mercado também está de olho no protesto dos produtores. Para o presidente do Sindicato das Indústrias de Carnes e Derivados do Rio Grande do Sul (Sicadergs), Ronei Lauxen, caso ocorra a paralisação da entrega dos animais para abates, o prejuízo será sentido em toda a cadeia produtiva. “Não teremos como ficar um mês sem receber a matéria-prima. Se essa paralisação for geral, destrói o setor e também terá reflexos para os próprios produtores. É preciso ver com cuidado onde estão os problemas que estão sendo reivindicados para evitar um caos geral”, acredita. O analista da Scot Consultoria Renato Bittencourt informa que o momento atual do mercado de boi gordo é de alta nos preços devido à redução de oferta. No Rio Grande do Sul, por exemplo, conforme dados da Scot, a elevação foi de 3,7% no último mês. Já em São Paulo, a valorização foi de 3% no período. “Se acontecer, poderá acarretar no mais alto preço visto no mercado de boi gordo no País.” Com informações do Jornal do Comércio/RS. |