Em Primavera do Leste, a lagarta já apareceu em áreas de soja.
Safra sobre safra facilita permanência da praga nas lavouras.
Em uma propriedade de Primavera do Leste (MT), região Centro-sul, o plantio começou no dia 29 de setembro e o gerente técnico Volnei Leite diz que, desde que as primeiras plantas surgiram, já foram vistas as mariposas daHelicoverpa armigera na lavoura. “A lagarta empulpa no solo entre a safra de algodão e soja e, mesmo com um intervalo de 30 dias entre as culturas, quando vê que tem as condições ideais, ressurge”, conta ele.
Na propriedade, todas as áreas tiveram incidência de Helicoverpa. Nas primeiras plantadas já foram feitas três aplicações, sendo as duas primeiras com defensivos fisiológicos e a última com diamida, princípio ativo para combater a lagarta.
“O problema este ano é quanto vai custar controlá-la, se a soja vai cobrir os custos na hora da venda”, analisa.
Dá para ver os resquícios da passagem da praga pela lavoura nas folhas que foram atacadas. Mesmo com a preocupação diante da ameaça da praga, o gerente técnico diz que se for controlada no início do ciclo da soja, a praga não deve atrapalhar a safra. A saída é o monitoramento constante da lavoura enquanto a lagarta ainda está eclodindo dos ovos.
“Neste momento, a planta suporta a desfolha. Se o ataque for no período reprodutivo, pode ter perdas se não conseguir controlar, porque ataca a vagem da soja, que é exatamente o grão que é a produção. A lagarta fica dentro da vagem se alimentando e fica protegida, os defensivos não a atingem”, explica.
Na propriedade de Agenor Aires de Melo Júnior, também em Primavera, a lagarta também surgiu no início do ciclo, mas bastaram duas aplicações de defensivos para controlá-las. Mesmo assim, até o final do ciclo da cultura ele prevê que será necessário manter o cuidado não somente com aHelicoverpa. “Este ano matou bem. Ano passado não matou tão fácil”, lembra. “A programação é fazer seis aplicações para vários tipos de lagarta.”
Segundo o diretor técnico da Aprosoja-MT, Nery Ribas, a Helicoverpa está na região porque tem alimento para ela o ano inteiro. “Soja, milho, crotalária, milheto, feijão, algodão. São várias culturas o ano todo”, afirma.
Em áreas de pivô, pode-se cultivar no campo o ano todo. “A Helicoverpa está em todo o estado, mas os maiores polos de irrigação ficam na região de Primavera do Leste e Sorriso, na região norte, sendo assim, é onde tem mais condições para que a lagarta apareça”, explica Ribas.
Conforme Ribas, o produtor rural deve adotar o Manejo Integrado de Pragas (MIP) nas propriedades rurais e reforçar o monitoramento das áreas produtivas para identificar as pragas logo no início da infestação. “É importante ter funcionários treinados para isso na propriedade para ajudar na identificação de pragas”, comenta.
Na opinião do pesquisador José Tadashi, é muito importante eliminar os restos das culturas que são alimentos disponíveis para as lagartas entre uma safra e outra. O clima tropical favorece o plantio de várias culturas durante o ano, segundo ele, o que é uma vantagem, mas oferece alimento às pragas durante o ano. “Aí vem a importância de entender sobre os problemas fitossanitários que podem aumentar ou pensar em formas de manejo dessas culturas. No caso da soja, eliminar a soja guaxa, que nasce dos grãos que se perde da colheita. Essa é a função do vazio sanitário”, comenta.
No caso do milho, Tadashi observa que, se não der um intervalo, as lagartas são mantidas no campo. “Por exemplo, agora estamos tendo muitas lavouras que tiveram milho safrinha e não foram dessecadas e servem de alimento para lagartas. Mesmo o milheto, que é uma cultura de cobertura muito importante, acaba sendo um hospedeiro e passando para a soja que vem depois”, analisa.
Circuito Tecnológico – Etapa Soja
Durante esta semana, oito equipes da Aprosoja-MT estão percorrendo o estado coletando informações de plantio de soja, como parte das atividades do Circuito Tecnológico da Aprosoja. Seis das sete propriedades visitadas na região de Santo Antônio do Leste pela equipe 4, nesta terça-feira (28), citaram a ameaça da helicoverpa como a principal preocupação nesta safra.
*A jornalista acompanha a comitiva do Circuito Tecnológico à convite da Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso.
Fonte: G1