A economia brasileira tem crescido pouco, mas esse resultado provavelmente seria negativo não fosse o impulso do agronegócio. A produção industrial do país deve encolher em 2014, mas a safra de grãos baterá novo recorde — acima de 190 milhões de toneladas. Não fosse o agronegócio, o Brasil seria forçado a importar ainda mais gasolina, e não contaria com a geração de energia elétrica proveniente da biomassa.
O agronegócio revigorou cidades médias e pequenas, interrompendo o inchaço das regiões metropolitanas, sobrecarregadas de problemas urbanos e sociais. Expandindo-se bem acima da média, as áreas cujas cadeias produtivas estão mais ligadas ao setor demandam investimentos em infraestrutura e serviços, de modo que o conjunto da economia acaba também de beneficiando. “Demonizado” por grupos políticos de esquerda, que o confundem com o velho latifúndio improdutivo, o agronegócio é quase sempre vítima de preconceito ideológico, inclusive de ambientalistas, como se fosse impraticável compatibilizar atividade agrícola e pecuária com a preservação da natureza.
No entanto, a sustentabilidade é essencial para o agronegócio no médio e longo prazos. Não há segmento econômico mais afetado pelas mudanças climáticas que esse setor. Ainda assim, para evitar a exploração predatória, é possível se estabelecer regras de convivência entre o agronegócios e a preservação da natureza. O Código Florestal aprovado no ano passado buscou esse equilíbrio, por meio de debates e negociações no Congresso Nacional. Havia uma natural preocupação com o avanço sobre as florestas, na verdade mais ameaçadas pelo extrativismo predatório e criminoso do que pelo agronegócio organizado.
A indústria brasileira de papel e celulose hoje só utiliza como matéria prima madeira procedente de reflorestamento. A madeira que não é certificada se restringe cada vez mais a mercados marginais. Quando o impacto ambiental é inevitável, compensações são exigidas dos empreendedores. Assim, a “demonização” do agronegócio não se justifica.
Essa questão inevitavelmente vai figurar no debate político que envolve a campanha eleitoral, agora que Marina Silva se torna candidata à presidente na coligação liderada pelo PSB, devido ao trágico falecimento de seu companheiro cabeça de chapa, Eduardo Campos. Tal aliança foi vista inicialmente com desconfiança — e até fadada a fracasso — por conta das posições assumidas anteriormente por ela em relação ao agronegócio. Campos vinha buscando aproximação com o empresariado, com um discurso pró-mercado, e afirmava ter chegado a entendimento com Marina sobre todos os temas polêmicos (o que, obviamente, incluía o agronegócio). Sem Eduardo Campos, resta saber como Marina se posicionará em relação a segmento tão importante para o Brasil.
Editorial do Jornal O Globo – 21/08/2014