Dilceu Sperafico*
As deficiências e atrasos do sistema rodoviário brasileiro vão muito além de estradas com pavimento de má qualidade, de pista simples ou ainda de chão, dos absurdos de pedágios extorsivos e da falta de alternativas de transporte mais barato e adequado à elevada produção agropecuária e extensão territorial do País, como ferrovias e hidrovias.
Conforme estudo da Confederação Nacional do Transporte (CNT), divulgado recentemente, a falta de acompanhamento técnico e fiscalização da aplicação de recursos em novas obras e serviços de manutenção das rodovias existentes, pode ser apontada como uma das principais causas da baixa durabilidade do asfalto da malha rodoviária do Brasil.
De acordo com o levantamento, o pavimento utilizado nas rodovias brasileiras, mesmo tendo durabilidade projetada para até 12 anos, problemas como buracos e desníveis aparecem muito antes do previsto na elaboração de projetos de engenharia e cálculos de custos das obras.
Essas distorções só agravam ainda mais a falta de recursos para obras de construção e/ou pavimentação de novas estradas e fiscalização da manutenção de trechos já asfaltados, penalizando transportadores, produtores rurais, empresários urbanos, consumidores e usuários de toda a malha rodoviária brasileira.
Com isso, segundo a CNT, o Brasil ocupa o 111º lugar em ranking de qualidade de rodovias de 138 países, elaborado pelo Fórum Econômico Mundial, com a finalidade de avaliar a evolução do transporte rodoviário em todo o planeta.
Segundo especialistas, mesmo que na média, a pavimentação de rodovias brasileiras seja projetada para durar entre oito e 12 anos, muitas vezes não atinge a metade desse tempo, enquanto nos Estados Unidos, que ocupa o 13º lugar no ranking, o asfalto é implantado para permanecer intacto por 25 anos, sem falhas na projeção.
Segundo o estudo, o Brasil comete erro grave ao projetar rodovias para durar menos tempo, para que o custo da construção seja menor, pois acontece exatamente o contrário, já que a redução da qualidade do asfalto acaba elevando o valor das obras e onerando os cofres públicos e a sociedade.
Além da má qualidade das obras de pavimentação, conforme o levantamento, problemas como a falta ou deficiências da manutenção das estradas, contribuem para que comecem a apresentar problemas antes do previsto, durando menos e causando enormes prejuízos ao escoamento da produção e movimentação da população.
Dessa forma, o desgaste prematuro e muitas vezes em grandes proporções, se tornou a principal deficiência do pavimento das estradas brasileiras sob gestão pública.
Para completar, a deficiência cresceu muito nos últimos anos, pois entre 2004 e 2016, o percentual de trechos de asfalto de má qualidade passou de 13% para 49% do total. Ao mesmo tempo, o índice do pavimento de qualidade caiu de 48% para 32%
Na prática, a necessidade de recuperar trechos desgastados e executar outras obras para corrigir defeitos de ações iniciais, acabam elevando o custo final das rodovias e impedindo a expansão do benefício da pavimentação, apesar da extensão territorial e distâncias de portos e centros consumidores de regiões mais produtivas.
Conforme a CNT, apenas 12,3% das rodovias brasileiras são pavimentadas, o equivalente a 211.468 quilômetros de estradas e para reverter esse quadro, o País terá de rever a projeção, pavimentação e manutenção de rodovias, garantindo melhor retorno aos investimentos públicos.
*O autor é deputado federal pelo Paraná