Dilceu Sperafico*
As estatísticas sobre o número e a extensão do sofrimento de pessoas famintas no planeta, são indicativos incontestáveis da importância do agronegócio para a sobrevivência e o bem-estar da humanidade.
Conforme estudos da Organização das Nações Unidas (ONU), são cerca de 800 milhões de pessoas, de diversas regiões do mundo, que passam fome diariamente.
Na verdade, são muito mais, pois para a organização declarar a existência de fome em determinado país, é necessário comprovar que pelo menos 20% de sua população não tenham acesso a pelo menos duas mil calorias de alimentos por dia e mais de 30% de suas crianças sofram de má nutrição.
Com essa carência de alimentos, os países atingidos pela fome registram duas mortes de adultos e quatro mortes de crianças por dia, para cada dez mil habitantes.
Para controlar e minimizar essa catástrofe, a ONU pede ajuda de 4,4 bilhões de dólares, de parte de países desenvolvidos até julho deste ano, visando a aquisição e distribuição de alimentos.
Segundo a organização, na atualidade a situação de insegurança alimentar mais grave atinge cerca de 20 milhões de pessoas, com adultos, crianças e idosos enfrentando epidemia de fome.
São habitantes de quatro países, como Iêmen, com 14,1 milhões de famintos; Sudão do Sul, com 4,9 milhões; Somália, com 2,9 milhões e Nigéria, com 1,8 milhão de pessoas passando fome, naquela que seria a “pior crise humana desde 1945”, quando foi criada a ONU..
Conforme especialistas, nesses países predomina a mesma sensação de dor aguda e constante causada pela desnutrição. Trata-se de verdadeira agonia, que parece perfurar o estômago dias a fio, muitas vezes agravada pelo calor escaldante ou frio intenso, que deixam inertes os corpos das pessoas.
Os poucos restos de alimentos que ainda são ingeridos não são suficientes para livrar o organismo das dores da fome e da angústia da incerteza sobre quando se terá uma verdadeira refeição.
Nas crianças, o vazio resultante da ausência de nutrientes não demora a se transformar em choro, pois elas estão entre os seres mais vulneráveis, para o desespero de pais e demais familiares, que não sabem o que fazer para saciar a sua fome.
Nas regiões mais pobres ou de refugiados há acampamentos onde estão mulheres e bebês apáticos, sem força e disposição para lutar pela vida. Há crianças de pouca idade visivelmente acometidas pela desnutrição, pois durante meses só recebem pequena quantidade de grãos e arroz para se alimentar.
É lamentável, mas é parcela significativa da população vivendo sob o flagelo da fome e há casos de má nutrição tão graves que adultos quase não têm forças para andar, enquanto crianças morrem diariamente.
A fome voltou a ser motivo de alertas mundiais, recordando os anos de 1980, quando imagens de crianças esqueléticas chamavam a atenção para um milhão de mortos na Etiópia.
Na década seguinte, 3,5 milhões de norte-coreanos também morreram por falta de alimentos. Mais recentemente, a República Democrática do Congo e a Somália perderam quatro milhões de pessoas para a fome.
Para reverter o quadro, o Banco Mundial, defende que além de enviar alimentos a essas regiões, também é necessário oferecer à população local condições de comprar ou cultivar produtos locais.
Contraditoriamente, a nova onda de fome no mundo surge em época em que cresce a produção de alimentos, mas ao mesmo tempo o desperdício chega a 1,3 bilhão de toneladas por ano.
*O autor é deputado federal pelo Paraná