Coluna de Celso Ming e Raquel Brandão publicada no Jornal Estadão
As primeiras projeções da safra de grãos cuja semeadura para o verão está em fase de conclusão são de excelente desempenho
O desempenho da economia não traz apenas más notícias. O agronegócio, por exemplo, vai bem e deve melhorar.
Apesar da quebra de safra deste 2016, em consequência da estiagem, alguns analistas já anteveem resultado líquido positivo neste ano, com crescimento de 3,4%, como apontou terça-feira a Confederação Nacional da Agricultura (CNA), graças aos melhores preços vigentes no mercado global.
As primeiras projeções da safra de grãos cuja semeadura para o verão está em fase de conclusão são de excelente desempenho, provavelmente de crescimento superior a 14% (em relação à safra anterior) e recorde de produção, entre 210 e 213 milhões de toneladas, conforme indicam os levantamentos do IBGE e da Conab (veja o gráfico).
Apenas as quatro principais culturas de grãos (arroz, feijão, milho e soja) deverão injetar na economia R$ 194 bilhões, ou R$ 36 bilhões a mais do que neste ano, de acordo com os cálculos da Conab. É um bom dinheiro que em boa hora deve circular no País a partir do interior.
A semeadura em curso enfrentou a temporada ruim que atinge toda a economia, mas contou com um dólar na casa dos R$ 3,22, bem mais baixo do que os quase R$ 4,00 que prevaleceram no início do ano. Foi o que permitiu a compra de insumos importados, especialmente fertilizantes, a um custo mais baixo. Neste ano, a área plantada deve aumentar alguma coisa entre 1% e 2% e que também será beneficiada com a boa temporada de chuvas no Centro-Sul.
E é preciso falar também de preços. “De maneira geral, as cotações das commodities recuaram em relação às que vigoraram há um ano, mas para o Brasil não chegam a ser ruins, já que a produtividade será melhor”, diz João Vicente Ferraz, da consultoria Informa Economics FNP.
O otimismo do agronegócio se reflete também na procura de maquinário. Os levantamentos da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores, a Anfavea, mostram que as vendas de máquinas agrícolas e rodoviárias cresceram 61,3% em novembro em comparação com 2015. A Abimaq, a entidade que cuida dos interesses da indústria brasileira de máquinas, estima aumento de 13% nas vendas de máquinas e implementos agrícolas em 2016 e novo aumento de 15% em 2017, conforme garante o presidente da Câmara Setorial de Máquinas e Implementos Agrícolas, Pedro Estevão Bastos.
Fabio Meneghin, sócio-analista da consultoria Agroconsult, observa que esse aumento de demanda é bom sinal, na medida em que a compra de equipamentos é o primeiro item de desistência quando o orçamento aperta.
A logística do setor é o problema de sempre, mas não se pode ignorar as melhorias. Alan Malinski, assessor técnico da CNA, observa que o escoamento melhorou para a Região Norte, que conta agora com novos portos e redução do frete. “Se o clima continuar favorável, a única adversidade mais séria que esta safra pode enfrentar é o cenário externo, pois ainda não se sabe qual será a política a ser adotada para a agricultura e o comércio exterior pelo governo Trump. Se a China parar de importar soja dos Estados Unidos, as cotações na Bolsa de Chicago podem despencar e, nessas condições não se poderia ignorar o impacto também aqui no Brasil”, adverte ele.
CONFIRA:
O gráfico mostra a evolução dos preços dos cereais de acordo com levantamento da FAO (Food and Agriculture Organization). Como se vê, os preços em dólares estão em queda, basicamente pelo aumento da oferta. Em reais, a curva é diferente porque reflete também a cotação do dólar em moeda nacional.
Açúcar
Ao contrário do que acontece com os cereais, as cotações do açúcar seguem em alta. Subiram 38% em 2016 (até esta quinta-feira), segundo o índice da FAO. É o que vem melhorando o desempenho do setor.