Dilceu Sperafico*
Quem transita pelas rodovias brasileiras enfrenta e conhece bem as suas deficiências e riscos, que vão de pistas simples em trechos movimentados, asfalto esburacado, sinalização precária, projetos ultrapassados pela evolução dos veículos automotores, tarifas extorsivas de pedágio e até a falta de educação de parcela considerável dos motoristas.
Para informar melhor as autoridades e lideranças que eventualmente desconheçam essa lamentável realidade, a Confederação Nacional do Transporte (CNT), realizou e divulgou levantamento sobre a situação efetiva das rodovias nacionais.
Conforme o estudo, a situação só não é bem pior, dificultando e encarecendo o escoamento da produção agroindustrial e causando acidentes com a perda de milhares de vidas humanas, porque parcela das estradas foi repassada à iniciativa privada.
Os trechos de rodovias brasileiras concedidas às empresas do ramo apresentam melhores condições de trafegabilidade, pois têm 78,7% de sua extensão classificadas como ótima ou boa. Já nas estradas mantidas pelo poder público, apenas 32,9% foram avaliadas como ótimas ou boas.
Como já havia acontecido em estudo semelhante de 2015, as 10 melhores rodovias do País têm gestão privada. Conforme o levantamento, de 2015 para 2016 houve aumento de 26,6% no número de pontos considerados críticos nas rodovias brasileiras, com problemas como buracos, queda de barreiras e erosões.
Além disso, a pavimentação beneficia apenas 12,3% da extensão da malha rodoviária nacional, penalizando agricultores, empresários e pessoas que necessitam escoar sua produção e pessoas que precisam ir às cidades em busca de bens de consumo e serviços públicos.
Conforme a CNT, o trânsito de caminhões, ônibus e veículos leves em estradas mal conservadas e/ou sem pavimentação aumenta em 24,9% o custo operacional do transporte rodoviário no País, transferindo aos consumidores e contribuintes a elevação das despesas dos transportadores.
Especialistas alertam que a manutenção das estradas deveria ser mais efetiva e freqüente, pois a falta de conservação agrava a perda de qualidade e eleva custos da recuperação e aumenta a insegurança de motoristas e usuários, o que igualmente amplia despesas do poder público na fiscalização das rodovias e atendimento dos acidentados.
Conforme o estudo da CNT, o Brasil está investindo pouco mais de seis bilhões de reais por ano na abertura, manutenção e melhoria de rodovias, o que distancia o País cada vez mais da situação ideal para a redução aceitável desse grave problema, que é atribuição legal do poder público.
A CNT estima que para recuperar os trechos em piores condições de trafegabilidade e qualificar a malha rodoviária nacional, seriam necessários investimentos totais de 292,54 bilhões de reais, incluindo estradas federais e estaduais.
Desse total, 137,13 bilhões de reais deveriam ser destinados à duplicações de rodovias, especialmente nos trechos mais movimentados, enquanto 98,33 bilhões à construção e pavimentação de novas estradas e 57,08 bilhões para a restauração e reconstrução de pavimentos esburacados.
Conforme o estudo, as piores estradas brasileiras estão na região Nordeste e para a melhoria das condições de pavimento em todo o País, o poder público deveria igualmente oferecer maiores atrativos e facilidades para a participação da iniciativa privada no processo de recuperação da malha rodoviária nacional.
*O autor é deputado federal pelo Paraná