Dilceu Sperafico*
Enquanto outras nações enfrentam a escassez e/ou os preços elevados de alimentos disponíveis, pela insuficiência de produção própria e oscilações do câmbio e mercado globalizado, o Brasil sofre com a falta de estrutura para o escoamento de suas safras.
Conforme lideranças do agronegócio e especialistas, a logística de transporte deficiente é hoje o principal gargalo da competitividade da agropecuária brasileira.
Além de escoar a maior parte de sua produção de grãos, carnes e derivados, através de rodovias, o transporte se estende por até milhares de quilômetros e por estradas de pistas simples, com pavimentação mal conservada e tarifas de pedágio elevadas, em muitos trechos.
Enquanto isso, outros grandes produtores escoam sua produção através de hidrovias e ferrovias, restringindo a movimentação através de rodovias a algumas dezenas de quilômetros.
O mais grave é que isso acontece num País cortado por inúmeros cursos d’água navegáveis e com cerca de oito mil quilômetros de litoral.
Tais deficiências contrastam com o entendimento de que o Brasil nasceu para ser um grande produtor agrícola, graças à sua localização privilegiada, extensão de terras cultiváveis e férteis e clima generoso, que viabilizam e colaboram para o bom rendimento das mais variadas culturas.
Graças a essas condições singulares, a produção primária nacional alcança volumes suficientes para abastecer grande parte das atuais demandas mundiais por alimentos.
Na safra 2014/2015, por exemplo, a produção de grãos do País deve somar 206 milhões de toneladas, mas apesar de todo esse potencial, a questão da logística e/ou infraestrutura de transporte até os centros consumidores e portos de exportações necessita de investimentos com urgência.
Se o escoamento da produção, especialmente de milho, soja e derivados, não receber a devida atenção dos governantes, o Brasil poderá começar a desperdiçar um dos seus maiores potenciais para o enfrentamento e superação dos desafios da economia globalizada e a garantia de qualidade de qualidade para a sua população, rural e urbana.
Entre os especialistas que vêm nos alertando para a extensão desse gargalo, inclusive com palestra proferida em Toledo, no Oeste do Paraná, há pouco tempo, está Luiz Antonio Fayet.
Ele é consultor de Logística e Infraestrutura da Confederação de Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) e membro da Câmara Temática de Infraestrutura e Logística, do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.
Conforme Fayet, em 2014 o País apresentou déficit de capacidade de embarque de grãos de 64 milhões de toneladas e se continuar aumentando a produção e a produtividade, sem realizar melhorias no sistema de transportes, principalmente na estrutura e aceso aos portos, correrá o risco de comprometer esse potencial,
Ele também ressalta que o agronegócio nasceu e se desenvolveu no Sul do País, mas com a abertura de novas fronteiras agrícolas, foi ampliado para o Centro-Oeste, Norte e Nordeste.
Com essa expansão, avançou para regiões carentes de infraestrutura de transporte terrestre e fluvial, sem capacidade portuária para consolidar novos corredores de escoamento das safras, o que pode comprometer a atividade, dentro de pouco tempo.
Lamentavelmente, o País desconsiderou o potencial hidroviário e ferroviário, visando redução de custos de exportação, o que compromete a renda do produtor e toda a cadeia produtiva alimentada pelo agronegócio.
*O autor é deputado federal pelo Paraná