Como já era esperado, o ministro-chefe da Casa Civil, Aloizio Mercadante, concordou em viabilizar a proposta de aumento do percentual de mistura do anidro na gasolina, atualmente em 25%, para 27%. Em reunião com usinas de etanol e montadoras de veículos, Mercadante disse, segundo pessoas presentes, que ainda levará a demanda à presidente Dilma Rousseff e que a expectativa é de que a medida entre em vigor a partir de 16 de fevereiro.
A pedido das montadoras, representadas pela Anfavea, Mercadante concordou em manter em 25% o percentual de mistura do etanol na gasolina “premium” até que sejam concluídos os testes de durabilidade dos motores movidos exclusivamente ao derivado fóssil, segundo o presidente da Anfavea, Luiz Moan.
Ele esclareceu que as montadoras concordam com a elevação da mistura apenas para os carros flex fuel, que já têm tecnologia adaptada para receber o anidro. “A Anfavea recomenda que os veículos com motores movidos à gasolina utilizem a premium”, afirmou.
Conforme reportagem publicada pelo Valor em novembro passado, duas séries de testes feitos pela Petrobras já haviam concluído que os motores de carros brasileiros movidos à gasolina comportam esse novo patamar de mistura de anidro.
Uma quantidade maior de anidro na gasolina atende a um pleito das usinas, que pediam uma elevação do percentual para até 27,5% a fim de escoar a maior produção de etanol do país. No entanto, por questões relacionadas ao direito do consumidor, a mudança acordada foi de 27%, dada a impossibilidade de medidores contidos nas bombas de combustíveis identificarem percentuais de mistura fracionados.
“As provetas [espécie de termômetro] que estão instaladas em cada bomba de combustível não são adequadas para leituras de percentuais intermediários de etanol anidro”, disse o presidente da Anfavea. “Então, para que o consumidor saiba que combustível está usando, o adequado foi propor 27% e não 27,5%”, detalhou Moan.
A presidente da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica), Elizabeth Farina, garantiu que as usinas estão preparadas para atender a essa nova mistura. O percentual de 27% deve aumentar em 1 bilhão de litros a demanda anual de anidro. A produção total de etanol no país em 2014/15 será da ordem de 28 bilhões de litros, informou Elizabeth. “O estoque que temos é suficiente para abastecermos o mercado de combustíveis no período de entressafra e safra [de cana-de-açúcar]”, disse.
Segundo executivos da Unica, Anfavea e do Fórum Sucroenergético, apesar da nova mistura ainda não ter sido aprovada pelo governo, o ministro Mercadante se mostrou “totalmente favorável ao pleito” e aprovou as propostas do grupo.
Para que entre em vigor o novo percentual, é preciso que o Conselho Interministerial do Açúcar e do Álcool (Cima), formado pelos ministros da Agricultura, Minas e Energia, Fazenda, Meio Ambiente e Desenvolvimento, Indústria e Comércio, aprove uma resolução permitindo a nova regra. Feito isso, a medida é publicada em ato presidencial.
Desde maio passado na presidência do conselho da Unica, o ex-ministro Roberto Rodrigues – que vai deixar o cargo por razões pessoais, segundo a entidade – avaliou que há uma nova postura do governo em relação ao setor sucroalcooleiro. O mais importante, segundo ele, foi a abertura, por Mercadante, de uma porta de negociação no governo para o setor. “A gente não conseguia conversar com ninguém aqui [no Palácio do Planalto]”, destacou.
Fonte: Valor Econômico