Primeiro ministro da Agricultura na gestão Lula, o engenheiro agrônomo Roberto Rodrigues foi chamado pelo governador de Pernambuco, Eduardo Campos, provável candidato do PSB à Presidência no ano que vem, para reduzir a resistência do agronegócio ao embarque de Marina Silva em seu projeto. Ele conseguiu cumprir a missão, mas alerta que a ex-ministra do Meio Ambiente precisa “flexibilizar” seu discurso se quiser o apoio do setor em 2014.
O governador Eduardo Campos o procurou depois da entrada de Marina no PSB. Como está sendo esse diálogo?
Campos foi meu colega de ministério. Tínhamos uma relação muito boa quando ele era ministro de Ciência e Tecnologia. Ele me procurou logo depois da aproximação com a Marina porque houve uma reação negativa à aliança dentro do agronegócio. Perguntou se eu podia ajudar a criar uma ponte. Foi o que fiz: convoquei uma reunião com 30 líderes e ele fez uma exposição sobre o seu projeto político.
Como o setor avalia a possibilidade de Marina ser a candidata da chapa à Presidência?
Ele garantiu que será o candidato. Mas é evidente que ela terá um papel fundamental.
O veto de Marina ao Ronaldo Caiado (deputado da bancada ruralista) foi uma radicalização?
Foi uma infelicidade dela romper dessa forma com um aliado de Eduardo Campos. Não foi uma coisa sábia de se fazer em um processo eleitoral.
Ela disse na ocasião que criticava apenas o setor atrasado do agronegócio…
É uma forma pouco inteligente de dividir o setor. É como dizer que existe ambientalista atrasado e moderno. Isso pegou mal.
A influência que ela poderia ter em uma eventual gestão Campos assusta o setor?
A Marina e o pessoal que está em torno dela precisam flexibilizar um pouco mais a posição. Tenho conversado com ela e sinto que há uma vontade de flexibilizar. O setor mostrou interesse nessa flexibilização. Precisa agora que a Marina mostre o mesmo interesse.
Que gesto de ?flexibilização? o agronegócio espera de Marina?
Essa é uma questão delicada, pois a agenda é enorme. Talvez o primeiro passo seja ela reconhecer que os retrógrados existem em todos os segmentos, inclusive no ambientalista.
O tucano Aécio Neves também o procurou?
Sim, devo ter uma reunião com ele em breve. Qualquer candidato que nos procurar, pedindo ajuda para fazer um plano de governo, será atendido da mesma maneira: entregaremos a cada um o mesmo plano. O plano não é para esse partido ou para aquele. É um plano para o agronegócio brasileiro.
Esse plano já está pronto?
No Congresso da Abag (Associação Brasileira do Agronegócio) deste ano, eu fiz um discurso meio amargo, dizendo que eu não aguento mais discutir os problemas do agronegócio. O diagnóstico todo mundo já sabe. O problema é a solução. Então eu sugeri que, para o congresso do ano que vem, que será em agosto, portanto a dois meses das eleições, nós façamos um projeto de um plano de ação, de estratégia para a agricultura brasileira. E vamos submeter esse plano publicamente aos candidatos. Aquele que se comprometer com o conjunto mais importante de demandas será apoiado.
Ainda não foi formalizado apoio a nenhum possível candidato?
Não. Hoje está todo mundo “assuntando”, como a gente diz lá na roça.
Como o sr. avalia a relação atual do agronegócio com a presidenta Dilma Rousseff?
O agronegócio não está muito feliz com o governo Dilma porque considera que o Ministério da Agricultura tem sido tratado como uma moeda de troca política. Não quero entrar no mérito das qualidades do ministro (Antônio Andrade), que é meu amigo, mas a indicação dele se deu porque ele era presidente do PMDB de Minas. Apesar disso, ela fez uma aproximação importante com a (senadora) Kátia Abreu (PMDB). Esse fato nos dá um horizonte interessante.
Que horizonte?
Essa eleição está sendo marcada por uma novidade. Nunca participei de um processo pré-eleitoral como esse, no qual todos os pré-candidatos estão se aproximando do setor. Finalmente a sociedade brasileira entendeu a importância do agronegócio para a economia.
Fonte: Estadão -Leia mais: http://bit.ly/1b0vS9v