Dilceu Sperafico*
Para o bem da humanidade e da preservação dos recursos naturais, empresas e entidades do mundo inteiro estão adotando iniciativas inovadoras para reduzir o desperdício e os custos de alimentos, especialmente para consumidores de baixa renda.
Em diversas cidades, inclusive do Brasil, já entraram em funcionamento mercados que vendem alimentos, como grãos, hortaliças, frutas e outros, sem fornecer embalagens, e em conseqüência, com descontos proporcionais à redução de seu custo.
Nessa alternativa, os consumidores interessados se utilizam de sacolas plásticas ou de tecido e outros recursos similares, para ir até o estabelecimento, fazer suas compras e retornar para casa sem as embalagens tradicionais.
Já outros mercados de outros centros urbanos adotaram estratégia diferente, vendendo apenas frutas e legumes com aparência rejeitada pelos clientes de estabelecimentos tradicionais.
São os casos de frutas e verduras com manchas ou deformação no formato conhecido, mas com qualidade preservada, que são comercializadas a preços atrativos, pois do contrário fatalmente seriam descartadas e jogadas no lixo.
Na Inglaterra, no entanto, os comerciantes foram ainda mais longe, adotando alternativa inédita para reduzir o desperdício de alimentos e a melhor alimentação da população de baixa renda.
O empreendimento social e ambientalmente correto foi o primeiro supermercado de “sobras” ou restos de alimentos de qualidade, inaugurado recentemente na cidade inglesa de Pudsey.
Iniciativa foi do The Real Junk Food Project, uma rede comercial de cafés que funciona no esquema “pague quanto puder”, e a loja, instalada em galpão convencional, recebe cerca de 10 toneladas de alimentos por dia, que seriam jogados no lixo por restaurantes, lanchonetes e outros mercados tradicionais. O cliente pode pagar pelos produtos com dinheiro ou serviços.
Conforme os idealizadores do empreendimento, embora a iniciativa possa ser bastante útil para pessoas que passam por dificuldades, a intenção maior é que qualquer cidadão vá ao mercado para fazer suas compras, sem nenhum tipo de constrangimento ou discriminação.
Segundo os comerciantes inovadores, não se pretende apenas facilitar a alimentação de desabrigados, necessitados, desempregados e refugiados, entre outros, pois o grande objetivo é alimentar a todas as pessoas que sintam fome e não tenham condições de freqüentar os estabelecimentos convencionais.
Para montar seu estoque, o mercado de “sobras” designa funcionários para interceptar produtos com prazo de validade vencido. Depois de cheirados, experimentados, inspecionados e verificados se continuam aptos para o consumo humano, são reunidos e levados ao estabelecimento.
Conforme eles, não se deve jogar comida fora por simplesmente estar com prazo vencido, como também não se deve oferecer alimentos inadequados ao consumo, colocando em risco a saúde dos clientes.
A criação do mercado ocorreu quando se constatou que o excedente de comida dos cafés do grupo era doado para escolas, mas como o verão no Hemisfério Norte, de junho a setembro, coincide com as férias escolares, as sobras acabavam jogadas no lixo.
Foi então que alguém teve a idéia de colocar mensagem nas redes sociais convidando as pessoas a ir até o depósito e pegar o que desejassem, o que acabou motivando muitos consumidores de baixa renda. Agora, o grupo planeja abrir estabelecimentos similares em outras cidades da Inglaterra.
*O autor é deputado federal pelo Paraná