Dilceu Sperafico*
Como vimos afirmando há décadas, em nossa opinião, é o agricultor o maior interessado na preservação dos recursos naturais e no equilíbrio ambiental.
Isso pela simples razão de que exerce atividades econômicas a céu aberto, expostas aos efeitos e prejuízos das adversidades climáticas, como as secas, enchentes, geadas, vendavais e tempestades de granizo.
Nesta condição, é o primeiro e o que mais perde com os fenômenos naturais negativos, sofrendo perdas em seus rendimentos e até no seu patrimônio.
Um novo exemplo desta realidade está nos riscos da redução da população de polinizadores para o futuro da agricultura da região, do Estado, do País e do mundo.
Conforme especialistas, a ação destes insetos, como as abelhas e borboletas, pousando nas flores das plantas, responde, no mínimo, por cerca de 10% da produção agrícola, em qualquer região do planeta.
A preocupação foi destacada em relatório recentemente divulgado, em reunião técnica realizada na Malásia, com participação de representantes de diversos países produtores.
Conforme pesquisadores, os polinizadores estão diminuindo em diversos países ao ponto de algumas espécies correrem o risco de extinção, o que significa ameaça à produção agropecuária mundial e não apenas à oferta de mel e derivados.
As perdas vão além da agricultura, porque a produção de proteína animal também depende da oferta de grãos e pastagens, beneficiadas com a polinização.
O estudo foi solicitado pela Organização das Nações Unidas (ONU), tendo como objetivo a avaliação mais precisa do retrocesso da biodiversidade e de eventuais medidas que possam ser adotadas para frear as perdas e riscos para a produção de alimentos para a população humana.
O documento foi apresentado e detalhado pela instituição Plataforma Intergovernamental sobre Biodiversidade e Serviços dos Ecossistemas, cujos especialistas concluíram pela ameaça de sobrevivência dos insetos polinizadores.
Seguindo os responsáveis pelo levantamento, há número crescente de insetos polinizadores ameaçados de redução populacional significativa e até extinção, em nível mundial, devido a vários fatores, muitos deles causados pelo ser humano e suas atividades econômicas.
O fenômeno coloca em risco a alimentação de milhões de pessoas e resultará na perda de centenas de bilhões de dólares em produção agrícola, a cada safra.
Conforme o estudo, se apenas 10% da produção agrícola mundial fossem afetados pela falta de polinização dos insetos, os prejuízos econômicos do agronegócio internacional poderiam somar até 500 bilhões de dólares, em conseqüência da redução da colheita de cereais e frutas, entre outras culturas dependentes da ação dos polinizadores nas lavouras.
Surpreendendo os participantes do evento, especialistas afirmaram que sem os polinizadores, parcela da população terá de deixar de consumir café, chocolate, maçãs e outros alimentos rotineiros em sua vida diária.
Ocorre que, conforme outros levantamentos, em determinadas culturas, de maneira geral, até três quartos das colheitas dependem da contribuição de polinizadores, pois as plantas necessitam dessa tarefa para o seu crescimento e rendimentos e qualidade da frutificação.
Para tentar controlar a situação, a instituição responsável pelo estudo foi encarregada de elaborar novos relatórios sobre o declínio de espécies animais e vegetais e seus ecossistemas, que constituem a biodiversidade mundial.
*O autor é deputado federal pelo Paraná