O ministro Blairo Maggi nunca escondeu seu desejo de ocupar o Ministério da Agricultura mas a oportunidade surgiu em um momento que exigirá dele grande desafio: atender as demandas da agropecuária sem impor mais desembolsos ao governo neste cenário de crise econômica. Duas vezes governador do maior estado agrícola do País, Mato Grosso, senador da República e um grande produtor rural, Maggi tem experiência e apoio político irrestrito da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA) e de entidades do agronegócio. Deverá ser capaz de enfrentar temas sensíveis da agricultura, como a diversidade de pressão e de demandas dos representantes das dezenas de culturas.
Poucos setores possuem uma demanda tão intensiva de capital público quanto a agricultura. E o novo ministro assume o cargo em um momento de cofres vazios, a necessidade de ajuste fiscal e ainda com o um Plano Agrícola e Pecuário 2016/2017 feito de afogadilho pela ex-ministra Kátia Abreu. Maggi vai precisar de dinheiro para o crédito rural e ainda tentará renegociar dívidas de agricultores que tiveram prejuízos recentemente por falta ou excesso de chuvas nas lavouras.
Com isso, o ministro da Agricultura deve bater na porta do ministério da Fazenda. Mas no posto não estará mais Nelson Barbosa, que, por determinação da presidente afastada Dilma Rousseff, atendeu as demandas de Kátia Abreu, especialmente nos últimos dias do mandato da ex-ministra. Maggi encontrará Henrique Meirelles e uma equipe de especialistas que tende a não pensar duas vezes em negar os pedidos do ministro por conta do plano de arrocho fiscal imaginado pelo titular da Fazenda.
Maggi terá de mostrar mais habilidade política para não ver sua gestão ofuscada por um único problema. Quem conhece o ministro aposta que ele pode ter sucesso e que se muitas vezes se faz de desentendido sobre algum assunto para poder pensar duas vezes antes de agir, ou mesmo responder uma pergunta simples.
Recentemente, ao ser indagado sobre os planos para o seguro rural, grande demanda dos produtores, o ministro disse que não conhecia o assunto, já que plantava soja há 40 anos em Mato Grosso e que nunca teve problemas com a perda de produção. “Esse é o estilo dele. Para não se complicar, diz que não conhece algum assunto e depois age”, resumiu um interlocutor.
Resta saber se essa habilidade de Maggi bastará para dobrar o ajuste fiscal que Meirelles prepara no governo. (Gustavo Porto – gustavo.porto@estadao.com)
Gustavo Porto é repórter do Broadcast